Egídio Barreto, presidente da
OAB de Aracati; Raimundo Nonato dos Santos, professor e fundador do Curso Nossa
Senhora da Saúde em Fortaleza; e Adriano Lima, idealizador do Curta Canoa. (Foto: Sandro Freitas)
Na última sexta-feira (08), a
Comissão Especial de Anistia Wanda Sidou (CEAWS), órgão colegiado vinculado à
Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado (Sejus), desembarcou em Aracati, no
litoral leste. Num ato simbólico, na Câmara Municipal, o Governo do Estado do
Ceará pediu desculpas oficiais pelos erros cometidos contra o cearense Raimundo
Nonato dos Santos, seus amigos e familiares, na década de 1960.
O presidente da Comissão, Mário
Albuquerque, também anunciou a reparação econômica por danos comprovados.
Raimundo Nonato foi indenizado por perseguição política com o valor de R$ 20
mil. “Esse julgamento não tem só esse aspecto financeiro, até porque nenhum
valor repara o que essas pessoas sofreram durante o regime militar. Mas busca,
principalmente, levar ao conhecimento da sociedade a compreensão de que essa
liberdade que hoje desfrutamos foi conquista às custas de prisões, sangues,
torturas, perseguições e desaparecimento de pessoas”, afirma.
Depois de ter sua casa invadida
por policias, livros apreendidos e destruídos, Raimundo Nonato dos Santos foi
acusado de subversão pela repressão política nos primeiros meses que se
seguiram ao golpe militar de 1964. ”Essa é uma reparação que eu esperei por
anos, porque aquele episódio angustiante ainda está muito vivo na minha
memória. Vivo, vivíssimo!”, declarou.
Quem também acompanhou a
apreciação do requerimento foi o presidente da OAB – Subseção Aracati, Egídio
Barreto, que destacou a relevância de assistir o Estado pedir desculpa a um
cidadão e submeter-se a um julgamento, em uma época em que a sociedade está tão
fragilizada com a desmoralização das instituições. “Hoje, quem estava no banco
dos réus era o estado. Naquela época, ter a casa invadida por polícias era ter
o medo de ser levado e não voltar mais. Raimundo Nonato não chegou a ser preso,
mas a família passou aquele momento de medo. Uma invasão é um desrespeito à
dignidade da pessoa humana, a individualidade, e tudo isso precisa ser
reprimido”.
Cinema contra o golpe!
A sessão extraordinária aconteceu
durante a realização da 12ª edição do Curta Canoa – Festival Latino-americano
de Cinema de Canoa Quebrada. Segundo
Adriano Lima, idealizador e diretor do evento, que segue sua programação até
terça-feira (12), a ideia surgiu de um esforço conjunto para construir e
fortalecer a memória da população cearense para que episódios de repressão não
voltem a se repetir.
“O fantasma da ditadura pareceu
nos ameaçar ao longo de 2017. Não havia como ignorar o tema durante essa
edição, e foi por isso que criamos a Mostra Cinema Contra o Golpe, que exibiu
filmes fabulosos como ’Manoel Bernardino, o Lênin da Matta’, da cineasta Rose
Panet. Mas nós queríamos fazer mais. E surgiu essa oportunidade durante uma
conversa com o Mário Albuquerque, que deu início a um esforço nosso para achar
as testemunhas e organizar este momento”, conclui Adriano Lima.
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