Análise da Fiocruz, a partir
de dados do Waze, mostra como a população voltou a circular mais, antes mesmo
do relaxamento oficial nas medidas de isolamento
A equipe de pesquisadores do
Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict), da Fiocruz, constatou
que a população começou a circular mais pelas grandes cidades há duas semanas,
antes mesmo de o relaxamento das medidas de isolamento ser efetivamente adotado
por alguns prefeitos e governadores. Essa constatação foi feita a partir de
dados da intensidade do trânsito de veículos, usando técnicas de big data, a
partir do aplicativo Waze.
A equipe do Icict/Fiocruz
estudou os dados diários (de 9 de março a 1º de junho) de mobilidade de
veículos em cinco regiões metropolitanas, todas com forte incidência de
Covid-19 (São Paulo, Rio de Janeiro, Recife/PE, Manaus/AM e Porto Alegre/RS). O
objetivo era mensurar, através do volume de tráfego de veículos, a adesão ao
isolamento social nessas cidades.
Usando os sinais de posição
(GPS) de telefones celulares para medir a velocidade do trânsito e a ocorrência
de engarrafamentos, o estudo constatou que, desde meados de março (quando
começou o isolamento social), houve forte redução do trânsito em todas as cinco
metrópoles. Porém, nas últimas duas
semanas, registrou-se um aumento médio de 20% nos engarrafamentos de trânsito
nessas cinco regiões metropolitanas, notadamente em Manaus e Porto Alegre. Esses engarrafamentos aconteceram
principalmente de segunda a sexta-feira, mas em Manaus e Porto Alegre foi
constatado que o trânsito aumentou também nos fins de semana.
Christovam Barcellos,
geógrafo, especialista em Saúde Pública e vice-diretor do Icict, diz que essa
constatação complementa estudos de outras instituições e informações de jornais
que vêm indicando uma queda na adesão ao isolamento social.
“Por que as pessoas estão
andando mais de carro? É possível que tenha havido um aumento nas atividades de
trabalho, ou na urgência em resolver outras questões cotidianas, após tantas
semanas de isolamento. O ponto é que, em cidades como Porto Alegre e Manaus, observa-se
também a ocorrência de engarrafamentos nos fins de semana, o que indica que a
população está saindo de casa a lazer”, alerta.
O pesquisador chama atenção
para a importância de se estudar o comportamento social na epidemia de
Covid-19:
“Nosso sentimento é de que as
práticas de investigação epidemiológica vêm se perdendo. Isso deveria ser
realizado principalmente pelas prefeituras, com apoio de órgãos centrais, como
os Centros de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs). É preciso
ter agentes de saúde, enfermeiros e médicos de família que conversem mais
profundamente com os pacientes e seus contatos, para saber como eles podem ter
se infectado, por onde andaram e qual a possibilidade de terem infectado outras
pessoas. Além disso, é possível usar técnicas mais modernas, como big data,
para monitorar a mobilidade da população e identificar situações de risco. Isso
foi feito de maneira muito forte na Coreia do Sul e trouxe ótimos resultados na
contenção do vírus. Aqui, ainda não sabemos o porquê de o volume de
engarrafamentos ter aumentado em Recife, nas sextas-feiras das últimas duas
semanas, por exemplo.”
Com o aumento no fluxo no
trânsito, também o vírus pode estar circulando com mais intensidade dentro das
regiões metropolitanas, e expandindo-se das capitais para as periferias. “Essas
capitais podem exportar o vírus e importar doentes graves nas próximas semanas,
devido ao relaxamento no isolamento social, como mostram os mapas de fluxo de
internação”, explica Diego Xavier, epidemiologista do Icict e participante do
projeto MonitoraCovid-19.
O estudo – que utilizou dados
disponíveis no sistema MonitoraCovid-19, também desenvolvido pela equipe do
Icict/Fiocruz – está publicado na nota técnica Intensidade de trânsito e
relaxamento do isolamento social em grandes cidades.
MonitoraCovid-19:
https://bigdata-covid19.icict.fiocruz.br
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