A falta de conhecimento acerca
da Língua Brasileira de Sinais (Libras) é, ainda, um obstáculo que atinge os
setores educacionais, principalmente, o Ensino Superior, em que há surdos que
participam de um ambiente que abriga duas línguas ao mesmo tempo – Libras e Língua
Portuguesa –, fazendo com que a Libras não seja valorizada como língua natural
dos indivíduos surdos. Embora vejamos que há uma proposta inclusiva para a
educação de surdos, ainda acreditamos que o modelo educacional bilíngue é mais
produtivo, pois considera a Libras como a língua natural e de comunicação das
pessoas surdas e utiliza a Libras para o ensino dos conteúdos
escolares/acadêmicos. Diante disso, o presente trabalho apresenta um estudo de
caso em uma pós-graduação para pessoas surdas, em uma instituição privada, no
formato bilíngue, com vistas a analisar as percepções dos sujeitos surdos em
relação ao modelo de educação.
No Ensino Superior, podemos
citar dois exemplos de modelo educacional bilíngue. O primeiro é na
Universidade Gallaudet (Gallaudet University) e o segundo no Rochester
Institute of Technology, onde existe o National Technical Institute for The (As
Metas Preconizadas para a Educação e a Pesquisa Integrada às Práticas Atuais) e
o Deaf (Instituto Técnico Nacional para os Surdos), ambos localizados nos
Estados Unidos, com programas desenvolvidos, exclusivamente, para surdos e
pessoas com dificuldades acentuadas de surdez, tendo como primeira língua
oficial a Língua Americana de Sinais (ASL).
No Brasil, atualmente, existem
as faculdades para alunos surdos e ouvintes, como o Instituto Superior
Bilíngues de Educação, unidade Ines – uma faculdade voltada para surdos,
promovendo cursos de magistério para indivíduos surdos e ouvintes. O objetivo
do curso é formar professores bilíngues. A Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) também promove alguns cursos nessa área. No caso em estudo, o
curso de pós-graduação lato sensu da especialização em Libras e Educação
Inclusiva da Pessoa Surda está organizado de forma a expressar o conhecimento na
Língua Brasileira de Sinais e privilegiar as formas de ensino e aprendizagem
dos alunos surdos. Esta especialização é presencial e oferecida na Faculdade
Aplha, reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC) do governo federal. Essa
pós-graduação reconhece a importância da comunicação em Libras, que segundo
membros do GT, portaria n° 1.060, 2013, p. 9 cita:
“Desse modo o poder público,
ao assegurar a educação bilíngue de surdos, como alternativa legítima de
educação, garante o acesso precoce das pessoas surdas a uma língua de sinais
plena, rica léxica e gramaticalmente. Isso se faz pelo ensino da Libras, pela
pesquisa e pelo lugar efetivo que o uso da Libras adquire no quadro linguístico
brasileiro”.
A finalidade do Ensino
Superior bilíngue é garantir a ilusão social de sujeitos surdos na sociedade
por meio de formação acadêmica que atende e respeita as suas especificidades
oriundas da surdez, abrindo espaços para a sua inclusão no mercado de trabalho.
Os especialistas formados neste curso poderão, então, trabalhar em ensino de
educação básica e nível superior na área de saúde, que também inclui aspectos sociais,
culturais e políticos, em que há necessidade do ensino de Libras para minimizar
as barreiras de comunicação entre surdos e ouvintes.
A estrutura do curso superior
deve dispor de competência pedagógica e técnica de um grupo de profissionais
fluentes em Libras, privilegiando os surdos. Segundo Quadros, Cerny e Pereira
(2008, p.36), “Diante das perspectivas linguísticas e educacionais, a língua de
instrução do Curso de Letras Libras é a Língua Brasileira de Sinais”. Nesse
sentido, esse curso reflete a política linguística atual na educação de surdos.
Sobre avaliação acadêmica, é preciso repensar o conteúdo e realizar uma
adaptação do português para Libras, deixando os alunos surdos terem o acesso
total à sua língua natural, conforme membros do GT, portaria n° 1.060 (2013, p.
15):
“Os conteúdos dos instrumentos de avaliação
devem ser pensados na Libras para candidatos/estudantes surdos. Isso implica a
necessidade de adaptações. Por exemplo, em provas com exemplos da Língua
Portuguesa pode ser necessário As Metas Preconizadas para a Educação e a
Pesquisa Integrada às Práticas Atuais 2 Capítulo 10 91 incluir exemplos da
Libras para tornar mais claro o conteúdo em questão”.
A partir da estrutura do
currículo do curso superior bilíngue, serão necessários critérios exigentes, a
fim de assegurar uma educação eficiente para todos os alunos, bem como garantir
o ensino-aprendizagem entre professor e aluno, abarcando a estruturação dos
objetivos, a escolha dos conteúdos, a elaboração dos passos metodológicos das
disciplinas e a construção dos instrumentos de avaliação. Além disso, é
importante garantir a organização, o desenvolvimento e a avaliação do processo
ensino-aprendizagem como referenciais básicos para toda a equipe
multidisciplinar, envolvida na construção dos materiais didáticos no ambiente
educacional (QUADROS; CERNY; PEREIRA, 2008).
Neste curso superior bilíngue,
como o próprio nome já diz, os profissionais que trabalham para melhor
atendimento educacional devem respeitar e interagir eficientemente com os
alunos surdos, reconhecendo o valor linguístico da Libras no decorrer do
currículo acadêmico e, neste caso, deve-se aprofundar os conhecimentos da
perspectiva da cultura surda, histórica e de outros fatos relacionados à surdez
e à língua materna, L1, de acordo com Quadros, Cerny e Pereira (2008). Conforme
Quadros, Cerny e Pereira (2008):[1]
“Os surdos trazem consigo a experiência de uma
língua visual-espacial, a Língua de Sinais, uma língua não oral-auditiva,
manifestação linguística própria deles mesmos em sua forma mais autêntica de
produção”.
Então, percebemos a
importância da graduação do Ensino Superior de reconhecer a comunicação em
Libras, segundo membros do GT, portaria n° 1.060 (2013, p. 9). Assim, notamos a
importância de um sistema de Ensino Superior com planejamento educacional
inclusivo, visando à acessibilidade dos indivíduos surdos, com um sistema de
ensino organizado, com recursos pedagógicos e tecnológicos específicos.
Portanto, a presença de professores surdos e professores bilíngues em sala, sem
a necessidade de intérpretes, contribui para um ambiente linguístico rico entre
professores e alunos surdos, professores ouvintes usuários da Libras, e atesta
a eficácia de um Ensino Superior bilíngue em Libras como primeira língua (L1)
dos alunos surdos.
Profª. Karine
Martins Saldanha
Professora do Curso
de Pedagogia da UniAteneu
Especialista em
Libras – Docência, Tradução e Interpretação e em Libras e Educação da Pessoa
Surda Inclusiva
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UniAteneu. Acesse: http://uniateneu.edu.br/
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