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sexta-feira, 12 de junho de 2020

ARTIGO] Educação bilíngue no Ensino Superior: percepções de sujeitos surdos



A falta de conhecimento acerca da Língua Brasileira de Sinais (Libras) é, ainda, um obstáculo que atinge os setores educacionais, principalmente, o Ensino Superior, em que há surdos que participam de um ambiente que abriga duas línguas ao mesmo tempo – Libras e Língua Portuguesa –, fazendo com que a Libras não seja valorizada como língua natural dos indivíduos surdos. Embora vejamos que há uma proposta inclusiva para a educação de surdos, ainda acreditamos que o modelo educacional bilíngue é mais produtivo, pois considera a Libras como a língua natural e de comunicação das pessoas surdas e utiliza a Libras para o ensino dos conteúdos escolares/acadêmicos. Diante disso, o presente trabalho apresenta um estudo de caso em uma pós-graduação para pessoas surdas, em uma instituição privada, no formato bilíngue, com vistas a analisar as percepções dos sujeitos surdos em relação ao modelo de educação.

No Ensino Superior, podemos citar dois exemplos de modelo educacional bilíngue. O primeiro é na Universidade Gallaudet (Gallaudet University) e o segundo no Rochester Institute of Technology, onde existe o National Technical Institute for The (As Metas Preconizadas para a Educação e a Pesquisa Integrada às Práticas Atuais) e o Deaf (Instituto Técnico Nacional para os Surdos), ambos localizados nos Estados Unidos, com programas desenvolvidos, exclusivamente, para surdos e pessoas com dificuldades acentuadas de surdez, tendo como primeira língua oficial a Língua Americana de Sinais (ASL).

No Brasil, atualmente, existem as faculdades para alunos surdos e ouvintes, como o Instituto Superior Bilíngues de Educação, unidade Ines – uma faculdade voltada para surdos, promovendo cursos de magistério para indivíduos surdos e ouvintes. O objetivo do curso é formar professores bilíngues. A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) também promove alguns cursos nessa área. No caso em estudo, o curso de pós-graduação lato sensu da especialização em Libras e Educação Inclusiva da Pessoa Surda está organizado de forma a expressar o conhecimento na Língua Brasileira de Sinais e privilegiar as formas de ensino e aprendizagem dos alunos surdos. Esta especialização é presencial e oferecida na Faculdade Aplha, reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC) do governo federal. Essa pós-graduação reconhece a importância da comunicação em Libras, que segundo membros do GT, portaria n° 1.060, 2013, p. 9 cita:



“Desse modo o poder público, ao assegurar a educação bilíngue de surdos, como alternativa legítima de educação, garante o acesso precoce das pessoas surdas a uma língua de sinais plena, rica léxica e gramaticalmente. Isso se faz pelo ensino da Libras, pela pesquisa e pelo lugar efetivo que o uso da Libras adquire no quadro linguístico brasileiro”.



A finalidade do Ensino Superior bilíngue é garantir a ilusão social de sujeitos surdos na sociedade por meio de formação acadêmica que atende e respeita as suas especificidades oriundas da surdez, abrindo espaços para a sua inclusão no mercado de trabalho. Os especialistas formados neste curso poderão, então, trabalhar em ensino de educação básica e nível superior na área de saúde, que também inclui aspectos sociais, culturais e políticos, em que há necessidade do ensino de Libras para minimizar as barreiras de comunicação entre surdos e ouvintes.

A estrutura do curso superior deve dispor de competência pedagógica e técnica de um grupo de profissionais fluentes em Libras, privilegiando os surdos. Segundo Quadros, Cerny e Pereira (2008, p.36), “Diante das perspectivas linguísticas e educacionais, a língua de instrução do Curso de Letras Libras é a Língua Brasileira de Sinais”. Nesse sentido, esse curso reflete a política linguística atual na educação de surdos. Sobre avaliação acadêmica, é preciso repensar o conteúdo e realizar uma adaptação do português para Libras, deixando os alunos surdos terem o acesso total à sua língua natural, conforme membros do GT, portaria n° 1.060 (2013, p. 15):



 “Os conteúdos dos instrumentos de avaliação devem ser pensados na Libras para candidatos/estudantes surdos. Isso implica a necessidade de adaptações. Por exemplo, em provas com exemplos da Língua Portuguesa pode ser necessário As Metas Preconizadas para a Educação e a Pesquisa Integrada às Práticas Atuais 2 Capítulo 10 91 incluir exemplos da Libras para tornar mais claro o conteúdo em questão”.



A partir da estrutura do currículo do curso superior bilíngue, serão necessários critérios exigentes, a fim de assegurar uma educação eficiente para todos os alunos, bem como garantir o ensino-aprendizagem entre professor e aluno, abarcando a estruturação dos objetivos, a escolha dos conteúdos, a elaboração dos passos metodológicos das disciplinas e a construção dos instrumentos de avaliação. Além disso, é importante garantir a organização, o desenvolvimento e a avaliação do processo ensino-aprendizagem como referenciais básicos para toda a equipe multidisciplinar, envolvida na construção dos materiais didáticos no ambiente educacional (QUADROS; CERNY; PEREIRA, 2008).

Neste curso superior bilíngue, como o próprio nome já diz, os profissionais que trabalham para melhor atendimento educacional devem respeitar e interagir eficientemente com os alunos surdos, reconhecendo o valor linguístico da Libras no decorrer do currículo acadêmico e, neste caso, deve-se aprofundar os conhecimentos da perspectiva da cultura surda, histórica e de outros fatos relacionados à surdez e à língua materna, L1, de acordo com Quadros, Cerny e Pereira (2008). Conforme Quadros, Cerny e Pereira (2008):[1]



 “Os surdos trazem consigo a experiência de uma língua visual-espacial, a Língua de Sinais, uma língua não oral-auditiva, manifestação linguística própria deles mesmos em sua forma mais autêntica de produção”.



Então, percebemos a importância da graduação do Ensino Superior de reconhecer a comunicação em Libras, segundo membros do GT, portaria n° 1.060 (2013, p. 9). Assim, notamos a importância de um sistema de Ensino Superior com planejamento educacional inclusivo, visando à acessibilidade dos indivíduos surdos, com um sistema de ensino organizado, com recursos pedagógicos e tecnológicos específicos. Portanto, a presença de professores surdos e professores bilíngues em sala, sem a necessidade de intérpretes, contribui para um ambiente linguístico rico entre professores e alunos surdos, professores ouvintes usuários da Libras, e atesta a eficácia de um Ensino Superior bilíngue em Libras como primeira língua (L1) dos alunos surdos.



Profª. Karine Martins Saldanha
Professora do Curso de Pedagogia da UniAteneu
Especialista em Libras – Docência, Tradução e Interpretação e em Libras e Educação da Pessoa Surda Inclusiva

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