E o nosso conhecido Bode Iôiô
ganha o mundo com sua história e ousadia. Em exposição no Museu do Ceará,
equipamento da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, ele será tema do
enredo da escola de samba Paraíso do Tuiuti em 2019. O animal, figura importante
no nossa história, ganhou fama que acabou sendo eleito vereador nas eleições de
1922, em um ato protesto da população. A Tuiuti pegará esse gancho e trará um
desfile sobre a importância do voto consciente. A escola de samba fará o
anúncio oficial do enredo, ainda sem nome, nesta sexta-feira, 6. A proposta é manter a
essência crítica na temática, como foi neste ano com alas que retratavam a
escravidão e faziam fortes críticas à política brasileira e à reforma
trabalhista.
"Chegado à capital pelas
mãos de flagelados da seca de 1915 – aquela eternizada por Rachel de Queiroz –,
o personagem desta história fora comprado provavelmente por caridade pelo dono
de uma das muitas firmas de importação e exportação que se espalhavam pela
capital cearense que pretendia ares de modernidade naquele início de século. E
foi justamente pelas ruas dessa Fortaleza que se desejava chic que o bode,
símbolo de uma cultura sertaneja que se queria suplantar, ganhou fama, em suas
idas e vindas diárias da Praia do Peixe ao Centro da cidade. E é daí que se
acredita vir seu famoso nome, Bode Ioiô.
Conta a memória de Fortaleza que
o caprino tinha livre trânsito pela cidade, sem ser incomodado pelos fiscais da
Intendência, adentrando vários estabelecimentos comerciais, sobremaneira os Cafés,
onde desfrutava do carisma de muitos e de vários tipos de regalias. Era um bode
boêmio! E nessa boemia nosso personagem teria de tudo aprendido: a tomar
cachaça, a andar de bonde e até a levantar a saia das moças. Conta-se mesmo que
chegou a ser eleito vereador da cidade, em uma época em que o voto acontecia em
cédulas de papel e os protestos políticos realizavam-se muitas vezes através da
galhofa", afirma Carla Vieira, diretora do Museu do Ceará.
Fotos: Felipe Abud
História
De tanta estripulia, o Bode Ioiô
virou personagem popular, tendo suas aventuras sido narradas por muitos
memorialistas da cidade e mesmo por viajantes. Após seus anos finais, o animal
chegou a ganhar necrológios em alguns dos jornais locais e seu dono providenciou
para que fosse empalhado, sendo então doado ao recém-criado Museu Histórico do
Ceará, onde até hoje se encontra e nunca saiu de exposição, contrariando a
opinião de muitos à época, de que um bode sertanejo nunca deveria figurar ao
lado das “personalidades ilustres” da História de nosso estado.
Tendo vencido tais opiniões, até
os dias dia de hoje o famoso Bode Ioiô desperta o interesse de crianças e
adultos que visitam o Museu do Ceará ou ouvem falar de sua história, inspirando
a produção de pesquisas, livros, poemas, cordéis etc. O que se observa, na
verdade e com bastante clareza, é que nosso personagem contribui em muito para
a demarcação de uma identidade cearense, de cultura forte, de raízes sertanejas
e que resiste às adversidades impostas com base na irreverência e na
comicidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário