O mundo entrou recentemente em
um momento delicado e, aparentemente, novo com a pandemia ocasionada pela
Covid-19. Digo aparente, pois a humanidade já passou por outros momentos assim,
sendo o último, no inicio do século XX com a gripe espanhola. O caos, o
desespero e as estruturas sociais em colapso demonstram o quanto não aprendemos
com essa experiência passada, o que nos leva a crer, a urgência de agora,
termos um novo olhar sobre o nosso atual contexto sócio-histórico-cultural.
Aqui, neste breve texto, coloco-me no exercício de (re) pensar a educação e
convido os (as) leitores (as) a se colocarem, também, nesse movimento comigo.
Passeando pelos feeds de
notícias do Instagram, encontrei uma frase postada pelo educador português e
fundador da Escola da Ponte, José Pacheco, que me chamou muita atenção. O
professor Pacheco dizia: “O isolamento social já é uma prática nas salas de
aula hoje”. Parei, refleti e concordei com sua opinião. De fato, grande parte
das instituições escolares e de ensino superior desvirtuaram-se totalmente da
finalidade educativa.
Transformaram-se em espaços
frios, onde o que se ensina não acontece na prática. Crianças e jovens adentram
em uma espécie de regime onde a dúvida, o erro, a curiosidade e a corporeidade
são esquecidas e suprimidas, dando ênfase, quase que unicamente, ao aspecto
cognitivo, esquecendo que possuímos uma pluralidade de dimensões (cognitiva,
moral, sensorial, sentimental, espiritual, social, política, etc.). Sua
arquitetura e dinâmica de funcionamento lembram prisões, onde cerceiam os
espaços, definem e delimitam o tempo para tudo.
A escola se torna chata, pois
é coerciva em suas metodologias que não respeitam as demandas e necessidades
das crianças e jovens, obrigando-as a saberem ler, escrever, e realizar
operações matemáticas em uma “idade certa” sem dar significado a tudo isso,
preocupando-se apenas com notas e índices. Essa preocupação com o produto, com
a nota, acaba gerando uma educação pautada na memorização, no “decoreba”, pois
os (as) estudantes para darem conta das demandas de produzirem bons resultados,
acabam entrando nesse ciclo destruidor da aprendizagem. Conteúdos e temas
desconexos com a realidade e o contexto de vida dos (as) estudantes, quando
tratados dessa forma, não geram significado e nem sentido para aprender, e,
assim, estimulam o “decoreba”, a evasão escolar e o desinteresse no processo
formativo.
Apesar do discurso mecânico em
defesa de uma escola construtivista e de ter os (as) estudantes como figuras
principais do processo formativo, a escola trata-os como “vasos vazios” e
sujeitos passivos. A escola se torna vazia, apesar de lotada de matrículas,
resume-se, assim, à figura de um prédio. Esquecemos que a vivacidade e
finalidade desse espaço vem das pessoas.
As escolas e instituições de
ensino superior devem ser espaços para a interação social, a produção de
conhecimento e de prazer. As interações sociais na escola geram aprendizagens
fundamentais no desenvolvimento pluridimensional da criança. Os conflitos, as
relações afetivas e as amizades são importantes para o desenvolvimento de uma
consciência social, coletiva, fraterna e interpessoal.
A busca pela produção de
conhecimento deve tomar o lugar das aulas. A aula tradicional aniquila o poder
criativo e ativo do sujeito da aprendizagem. Sufoca a curiosidade analítica das
crianças que buscam naturalmente saber o porquê das coisas e as consequências
dos fatos. Trocar a metodologia da aula pela pesquisa é necessário para
concretizar o discurso do (a) estudante como sujeito ativo e central do
processo formativo. É superar o entendimento de que a criança, o (a) jovem é
uma “lousa em branco”. É dar sentido e significado ao aprender para que possam
perceber que tais saberes reverberam em sua vida na sociedade. É empoderar com
as suas potencialidades de construir conhecimentos.
Para isso, o (a) professor (a)
deve assumir-se como sujeito reflexivo e não detentor (a) da verdade;
orientador (a) e não ditador (a). Acompanhar de perto, deixar a criança fazer,
errar, perguntar e até mesmo discordar. O (a) verdadeiro (a) educador (a) é
aquele (a) que faz “com” e não “para”. É inclusivo e estimula a criança e o (a)
jovem a tomar posse do saber. Assume o desafio de trabalhar com a coletividade,
mas sem deixar de lado as especificidades de cada individualidade. Eis o grande
desafio.
Isso poderia trazer o prazer,
a alegria de volta à escola, pois seria, realmente, um espaço do ser, do fazer,
do sentir, do aprender. Teria vida com o empoderamento e protagonismo de todos
(as) que estão envolvidos (as) no processo formativo. O engessamento
curricular, arquitetônico e organizacional daria lugar à produção orgânica do
saber.
Durante esse momento de
pandemia, escolas, professores (as), estudantes e as famílias estão sentindo
imensa dificuldade com as chamadas aulas remotas. De fato, um modelo formativo
que não tem se mostrado eficaz no regime presencial, não seria assertivo no modelo
virtual. É preciso repensar novos formatos e novas metodologias.
A pandemia nos mostrou o
quanto devemos avançar, no que tange o entendimento da finalidade da educação.
Passa o tempo, passam gestões, passam pessoas e continuamos promovendo o isolamento
social na escola; o isolamento da aprendizagem quando focamos apenas na
“ensinagem”; o isolamento da educação nos livros e teses, pois no mundo real,
no mundo fora dos livros, a teoria e a pratica não se tornam práxis.
Tomara que a vivência nessa
pandemia livre as escolas e as instituições educativas do faz-de-conta
pedagógico, na qual continuaremos dando aula fazendo de conta que ensinamos e
os (as) estudantes fazendo de conta que aprendem. Sei que não é fácil e entendo
o tamanho do desafio, mas precisamos de um primeiro passo. Urge o tempo de sair
do isolamento e nos encontrarmos, famílias, estudantes, professores (as) e
gestores (as), para juntos concretizar uma educação mais amorosa, coletiva,
produtora de conhecimento, comprometida com a sociedade e com a formação
pluridimensionalidade dos sujeitos.
Prof. Dr. Francisco
Jahannes dos Santos Rodrigues
Professor do Curso
de Pedagogia da UniAteneu
Doutor em Educação
Brasileira
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