As reflexões sobre a Educação
Brasileira perpassam a relação com os aspectos históricos, sociais, culturais,
econômicos e políticos, pois é no contexto da sociedade que as relações
acontecem e no âmbito da educação onde os padrões são mediados. Dessa forma, as
transformações societárias se articulam, inevitavelmente, às mudanças
educacionais, pois esse processo incide sobre o desenvolvimento humano, a
formação pessoal, profissional e os avanços tecnológicos de um território, de
povo, de uma nação.
Ao observar a história do
Brasil, quanto ao aspecto da Educação, identificam-se as tentativas e a
efetivação de modelos de ensino distintos, com intervenção diferente diante da
classe social, raça/etnia e gênero. As mulheres tiveram acesso ao ensino formal
tardiamente, em comparação aos homens. Contudo, o espaço de reprodução dos
costumes, crenças e valores foram reproduzidos pelas mulheres nas famílias,
comunidades e instituições.
A desigualdade de gênero como
reflexo de uma educação sexista pode ser identificada no acesso, apropriação e
ocupação dos espaços para homens e mulheres em diversos espaços: no âmbito
doméstico; nas escolas, com a grande presença e participação das professoras;
nas universidades, com a presença feminina vinculada ao tipo de profissão; e nas
organizações, com ocupações diversificadas. Pensar a Educação no Brasil, sobre
a desigualdade de gênero exige um deslocamento de compreensão e,
principalmente, demanda um posicionamento e atitude de mudanças diante dos
contextos.
A presença feminina nas
instituições de ensino vinculada à formação difere no objetivo da ocupação
masculina nesses lugares. Nos lares e nas famílias, a educação das mulheres
atendeu à manutenção do patriarcado, da cultura machista, sexista e opressora.
No âmbito público, as oportunidades oferecidas, o acesso ao ensino e à formação
acadêmica e profissional priorizou o lugar para os homens, especialmente,
ricos, brancos e heterossexistas. Isso permite observar como os espaços de
poder e decisão foram legitimados e privilegiados aos homens, ficando o campo
do privado e doméstico, de manutenção e reprodução social direcionado às
mulheres.
Nessa perspectiva, a
identidade feminina vinculada aos cuidados e à educação dos filhos esteve
inalterada por muito tempo. Contudo, essa condição se modificou com a
mobilização pelos direitos das mulheres e se constituiu uma ruptura e superação
de padrões desiguais. Contribuir para uma educação sem desigualdade de gênero,
discriminação e sexismo demanda estratégias de articulação e rompimentos, diversificada
e implementada em várias áreas.
É preciso intervir e
desconstruir mitos e estereótipos na família, nas escolas, nas comunidades, nas
organizações e nas universidades. É necessário ecoar sobre a apropriação e o
sentimento de pertença de que a educação para o desenvolvimento humano parte da
valorização da vida e do respeito a todos e todas, fluir a noção de que é
possível educar sem exclusão, opressão e alienação. Nesse caminho, não deve
existir concorrência ou disputa. O convite é para a equidade, disseminando uma
nova proposta relacional, pautada na resistência, na resiliência e na
ressignificação.
A construção coletiva pela
educação libertária de qualidade para todos e todas perpassa interesses
individuais diversos. A atual fragmentação fragiliza a articulação, a luta e a
defesa da educação como direito, como espaço de emancipação. A reivindicação
para a igualdade de gênero precisa ser articulada com diversos atores e atrizes
sociais, no processo de busca da autonomia, de ações para conscientização, de
socialização para o empoderamento e de efetivação do protagonismo.
A atuação sobre a realidade
cotidiana encontra-se conectada com a elaboração do simbólico, ao nível das
relações entre os homens e mulheres, pois são os sentidos vividos e os significados
apreendidos que mantém a lógica que rege a sociedade. É possível acreditar,
transformar e efetivar o caminho para uma educação não sexista, sem
discriminação e que promova a igualdade de gênero, uma sociedade mais justa,
democrática e sem violações aos seres humanos.
Profª. Ma. Maria
Helena Rodrigues Campelo
Coordenadora do
Curso de Psicologia da UniAteneu
Doutoranda e mestra
em Educação
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