A mostra fotográfica “Luciano
Carneiro: O Olho e o Mundo” apresenta a produção de um dos mais importantes
nomes do fotojornalismo no Brasil, com destaque para o período em que atuou na
revista O Cruzeiro. Abertura da exposição será às 19h, no Museu da Cultura
Cearense
Parceria entre o Instituto Dragão
do Mar (IDM) e o Instituto Moreira Salles (IMS) traz a Fortaleza exposição
inédita sobre o cearense Luciano Carneiro, fotojornalista com uma das mais
expressivas produções do Brasil. Intitulada “Luciano Carneiro: O Olho e o
Mundo”, a mostra terá abertura no dia 22 de fevereiro, às 19h, no Museu da
Cultura Cearense, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Serão cerca de 300
fotografias registradas entre o fim da década de 1940 e ao longo da década de
1950, período em que o fotojornalista atuou na revista O Cruzeiro. Sob
curadoria de Sergio Burgi, coordenador de Fotografia do IMS, a mostra pretende
difundir a visão de um talento ainda pouco conhecido na história da fotografia
brasileira e permite um denso recorte do início do moderno fotojornalismo no
país.
Luciano Carneiro foi um dos jornalistas
mais atuantes de seu tempo. Em uma curta carreira, interrompida por sua morte
aos 33 anos em um acidente aéreo, logo se destacou entre os principais nomes de
O Cruzeiro. Trabalhou na revista entre 1948 e 1959, inicialmente como repórter
e, no ano seguinte, escrevendo e fotografando. Nesse período, a publicação fez
uma consistente inflexão em direção a um fotojornalismo mais humanista e engajado.
Essa mudança foi concretizada por fotógrafos como José Medeiros, Flávio Damm,
Luiz Carlos Barreto, Henri Ballot, Eugênio Silva e o próprio Carneiro, que
passaram a integrar a equipe da revista, trazendo para as fotorreportagens
maior ênfase na objetividade e no caráter documental e jornalístico.
Graças à enorme estrutura dos Diários
Associados, grupo do qual a revista fazia parte, fundado por Assis
Chateaubrinand, Carneiro pôde fazer séries de reportagens em quatro
continentes, incluindo a cobertura da Guerra da Coreia, em 1951, sendo um dos
únicos repórteres sul-americanos a cobrir o conflito. Com seu espírito
aventureiro e com um brevê de paraquedista que possuía, saltou, ao lado do
exército americano, sobre as linhas inimigas durante a guerra.
Carneiro documentou, em 1955, o trabalho
humanista do dr. Albert Schweitzer na África – premiado três anos antes com o
Nobel da Paz. Acompanhou a entrada de Fidel Castro e seus companheiros
vitoriosos em Havana, em janeiro de 1959, e realizou ainda reportagens no
Japão, na Rússia e no Egito de Gamal Abdel Nasser, presidente daquele país de
1954 até 1970.
No Brasil, realizou matérias sobre
jangadeiros, posseiros, a seca no Nordeste, a herança do cangaço, as lutas
estudantis e ainda diversas matérias reunidas na seção “Do arquivo de um
correspondente estrangeiro” na revista O Cruzeiro, da qual era titular e onde
expressava livremente suas opiniões. Ali, revelava influências da fotografia
humanista do pós-guerra praticada por fotógrafos como Henri Cartier-Bresson,
Robert Capa, Robert Doisneau e W. Eugene Smith. Era um contraponto à coluna de
duas páginas de David Nasser, expoente de uma escola de jornalismo de viés
sensacionalista, a qual Carneiro se opunha frontalmente.
Ao lado de Rachel de Queiroz, Luiz Carlos
Barreto e Indalécio Wanderley, foi parte do elenco de jornalistas, fotógrafos e
intelectuais cearenses que ajudaram a construir este grande veículo de
comunicação de abrangência nacional e internacional que foi a revista O Cruzeiro.
O Instituto Moreira Salles vem ao longo dos últimos anos dedicando-se à
pesquisa sobre o fotojornalismo no Brasil, principalmente a partir da produção
dos fotógrafos que atuaram na revista.
Apesar de sua evidente relevância, a
produção fotográfica de Luciano Carneiro não foi ainda devidamente referenciada
e pesquisada. Esta exposição é o primeiro passo mais abrangente nesta direção,
com o objetivo de resgatar este importante legado, situando devidamente e
definitivamente a obra de Luciano Carneiro no âmbito da fotografia e das artes
visuais no Brasil. O conjunto de imagens apresentado corresponde integralmente
à coleção de originais cedida ao IMS por sua família, em que se destacam as reportagens
que realizou no exterior como correspondente da revista.
Além das fotografias originais, serão
exibidos materiais de época, como revistas e fac-símiles de matérias. Outros
destaques são: um vídeo sobre a importância da revista O Cruzeiro do ponto de
vista de fotógrafos, com depoimentos de Luiz Carlos Barreto e Flávio Damm, que
trabalharam na revista, e Walter Firmo e Evandro Teixeira, que nela encontraram
a mais forte inspiração no início da carreira; e um minidocumentário produzido
para a montagem original da exposição sobre Luciano Carneiro, com entrevistas
de Ziraldo e Luciano Carneiro Filho, entre outros.
Sobre o fotógrafo
José Luciano Mota Carneiro
(Fortaleza, 1926-Rio de Janeiro, 1959), filho de Antônio Magalhães Carneiro e
Maria Carmélia Mota Carneiro, nasceu no dia 9 de outubro. Iniciou sua carreira
como jornalista nos jornais Correio do Ceará e O Unitário, periódicos
integrantes dos Diários Associados. Começou a fotografar nesse mesmo período e,
em 1948, passou a integrar a equipe da revista O Cruzeiro, no Rio de Janeiro,
como repórter. Suas fotos passariam a ilustrar as reportagens um ano depois.
Luciano Carneiro morreu
tragicamente, no dia 22 de dezembro de 1959, em um acidente de avião próximo à
cidade do Rio de Janeiro, quando retornava de um trabalho singelo em Brasília:
fotografar o primeiro baile de debutantes da nova capital, então às vésperas da
inauguração.
Dos destroços do avião, foram
resgatadas suas máquinas fotográficas e os filmes com as fotos. A revista o
homenageou publicando o que seria sua última matéria, no dia 16 de janeiro de
1960, sem título nem textos, apenas imagens – em uma delas, aparece o próprio
fotógrafo refletido em um espelho. Antecedendo as imagens do acidente, na
edição de 9 de janeiro, que anunciava o falecimento, foram publicadas duas
páginas escritas por David Nasser lamentando a perda do colega. No texto,
Nasser ressalta as diferenças entre o jornalismo praticado por ambos e, ao
mesmo tempo, reconhece e enaltece sua objetividade e seu humanismo. Na edição
de 16 de janeiro, foi Rachel de Queiroz quem publicou sua homenagem.
SERVIÇO:
Abertura da exposição “Luciano
Carneiro: O Olho e o Mundo”
Quando: dia 22 de fevereiro de
2018
Hora: 19h
Onde: Museu da Cultura Cearense
(Rua Dragão do Mar, 81 – Praia de Iracema – Fortaleza / CE)
Visitação: de 23 de fevereiro a
13 de maio de 2018, de terça a sexta-feira, das 9h às 19h (com acesso até as
18h30); e aos sábados, domingos e feriados, das 14h às 21h (com acesso até as
20h30).
Acesso gratuito
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