Em Tombamento - Afetos
Construídos, a autora Manoela Queiroz Bacelar investiga, sob prisma jurídico, o
instituto do tombamento do patrimônio cultural. As imagens são de Campelo Costa
e Celso Oliveira.
Igreja e Seminário da Prainha.
Por Campelo Costa
Uma Fortaleza de afetos
construídos, mas nem sempre cuidados e usados como deveriam ser para que outras
gerações tenham também o privilégio de conhecer e viver a história da cidade.
Com um mergulho no tema dos direitos culturais, a advogada Manoela Queiroz
Bacelar lança Tombamento - Afetos Construídos (IBDCult, 2016). No dia 30 de
novembro, às 19 horas, acontece o lançamento na Galeria Multiarte.
O livro é publicado 15 anos
depois de Manoela pesquisar o assunto pela primeira vez, durante o Mestrado em
Direito, concluído em 2002 na Universidade Federal do Ceará (UFC). Mas o
contato com o tema foi um acaso que deu certo. “Fiz o trabalho para uma
disciplina e me apaixonei pelo tema de proteção do patrimônio cultural por meio
do instituto do tombamento. Tombar significa cristalizar um momento, um valor,
uma energia eleita como um afeto", revela. As monografias dos alunos foram
depois publicadas no livro Temas de Direito Administrativo, sob a coordenação
da professora Germana Moraes.
Com essa pesquisa já adiantada e
o interesse despertado pelo assunto, Manoela produziu sua dissertação de
Mestrado sobre tombamento, com enfoque em Fortaleza. Para isso, desenvolveu
tópicos jurídicos sobre a figura do tombamento e pesquisou todos os imóveis
tombados na cidade, protegidos nas esferas federal, por meio do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), estadual, via Secretaria da
Cultura, e municipal, através da Funcet, hoje Secultfor.
Antes de elaborar o livro a
autora fez a atualização da parte legislativa, complementou com algumas
doutrinas e jurisprudências sobre o tema, que surgiram ao longo desses anos e,
ao final de cada capítulo, fez uma digressão para solucionar o desafio que
encontrou ao perceber suas próprias mudanças. "De que forma eu poderia
publicar um trabalho que fiz com a cabeça de 15 anos atrás? O texto estava bom,
mas não era suficiente. Então tive que colocar para dialogar uma Manoela de 20
e poucos anos, menos experiente, com a Manoela de 41, mais amadurecida, e é
nesse momento que entra o recurso das digressões ao final de cada capítulo,
onde me permito falar sem muita censura", explica.
O livro tem prefácio de Virgílio
Maia, poeta e advogado. "Ele foi a pessoa que à época me incentivou a
publicar e é um poeta cujo trabalho admiro muito", revela. Outra grande
referência presente no livro é o professor Liberal de Castro. Dele, Manoela
publica uma carta que recebeu em julho deste ano.
CAMPELO COSTA E CELSO OLIVEIRA
Em Tombamento – Afetos
construídos, os traços do arquiteto Campelo Costa enriquecem a obra, com desenhos de alguns dos
imóveis tombados em Fortaleza. "São belos desenhos que o Campelo já tinha
em seu acervo e contribuem enormemente para a concepção deste trabalho",
ressalta.
Para dar uma conotação mais real
e concreta da situação do tombamento hoje na cidade, a autora convidou o
fotógrafo Celso Oliveira, que fez o registro de todos os imóveis tombados em
Fortaleza. A criação gráfica ficou a cargo de Eduardo Freire.
OS CAPÍTULOS
Dividido em cinco capítulos,
Tombamento - Afetos Construídos aborda O que é tombamento, sua natureza
jurídica, a questão do particular e o direito a indenização, o tombamento em
Fortaleza e fecha com o que chama de "um arremate dessa costura geral, com
proposições que visam ressignificar cada imóvel para que realmente aconteça a
proteção e a integração desses espaços na vida das pessoas. Isto é, não adianta
apenas tombar se não houver uma ressignificação para adequar o imóvel a um
determinado uso que esteja dentro de uma vocação contemporânea na cidade.
Assim, o afeto construído ganha uma chance de torna-se sustentável e o direito
cultural ao patrimônio preservado pode ser efetivado".
Ao final de cada capítulo está
uma digressão. "As digressões às vezes referem-se ao tema, às vezes fogem
um pouco da especificidade dele, enfocando a proteção do patrimônio cultural,
mas não necessariamente pelo olhar do instituto do tombamento, e há momentos em
que verso sobre coisas aleatórias", explica a autora.
Pontuando as distorções da
proteção que deveria ser perene, a autora também inclui na pesquisa casos de
imóveis que, embora tombados, foram destruídos. O prédio da Sociedade Artística
Cearense, a Casa de Rodolfo Teófilo e a Chácara Flora ilustram o tópico Afetos
destruídos em III atos.
NÚMEROS DO TOMBAMENTO EM
FORTALEZA
O hiato de 15 anos entre a
dissertação do Mestrado e a publicação do livro proporcionou um comparativo
entre a realidade do tombamento em Fortaleza em 2001 e o que se tem hoje, em
2016. "Nos últimos anos mais do que triplicou a quantidade imóveis
tombados localizados em Fortaleza. Demonstro a lista antiga e trago a listagem
nova, justamente para que as pessoas vejam o que aconteceu nesse recorte dos
afetos construídos", diz a autora.
SERVIÇO
Lançamento do livro Tombamento -
Afetos Construídos (IBDCult, 2016), de
Manoela Queiroz Bacelar - Dia 30 de novembro, às 19 horas, na Galeria
Multiarte, na Rua Barbosa de Freitas, 1727, Aldeota. Fortaleza – CE.
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