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quinta-feira, 19 de março de 2020

Março] O “P” de perfil e a quebradeira das livrarias


Prof. Danilo Amaral

Muito já se falou e foi escrito sobre a derrocada dos livros impressos, que serviriam apenas como belos e antigos enfeites para salas e escritórios. Aqui e acolá ainda me deparo com estas previsões que, como tais, tem tudo para dar errado. O que parece mesmo com os dias contados, no entanto, são as livrarias.

As maiores e mais ostentosas livrarias do mercado brasileiro estão na bancarrota. Cultura e Saraiva buscam salvação, ora na Justiça ora em negociação com o próprio mercado livreiro, para suas dívidas milionárias. Renegociação de prazos e descontos são o índice desta obra.

Se a velha máxima de que o brasileiro pouco se interessa por leitura e livros (há pesquisas mostrando que 30% nunca compraram um livro), como estas empresas se deixaram levar pelos investimentos em suntuosos espaços em grandes shoppings centers e em avenidas de grife? É possível que acreditassem que esta nossa relação com o livro (digital ou tradicional) fosse mudar em menos de uma geração, mesmo diante da qualidade do ensino que temos?

Nos 8 P’s do Marketing para o setor de serviço, há um dedicado ao perfil do negócio, leia-se a imagem do espaço que faz com que o cliente se entusiasme e confie na marca/empresa (coisas como decoração, fachada, iluminação etc). Para abrigar livros e leitores e, principalmente, atrair novos públicos, talvez não fosse necessário tanta madeira, aço e vidro, afinal, bom gosto não tem nada a ver com suntuosidade. Um custo que as livrarias agora não conseguem manter.

Em muitos negócios, o mínimo investimento – repito, com bom gosto – neste P de Marketing funcionasse melhor para empresas desejosas de ampliar seu público. Empresas, aliás, também responsáveis em desmistificar o mundo dos livros para os que ainda acham que leitura é coisa de intelectual. O perfil destas imensas lojas foi pensado neste público seleto, que, sozinho, não consegue manter o mercado, como comprovam amargamente Saraiva e Cultura.

A reflexão também seve para espaços mantidos com dinheiro público, principalmente, diga-se. Esquecem os gestores que manter suntuosidade custa caro. Basta ver estádios e centros de fomento a arte e cultura espalhados por aí.

Prof. Danilo Amaral Ramalho
Professor do Curso de Administração da UniAteneu
Mestre em Gestão de Negócios, especialista em Marketing e jornalista

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