É imprescindível a compreensão
dos efeitos causados pela modernidade nos modos de vida da sociedade
fortalezense e como estes interferiram e interferem na dinâmica e hábitos de
vida de sua população. Desse modo, o estudo dos espaços públicos e de suas atividades,
inseridas no contexto da cidade, remete-nos a uma discussão em âmbito mais
geral, e, de forma especial, como as inovações tecnológicas atuam diretamente
na transformação do espaço, não só de forma generalizada, mas como estas
modificações podem ser explicadas levando em conta a realidade local.
O espaço urbano constitui um
produto social em constante processo de transformação e seu estudo torna-se
necessário para uma maior compreensão do uso que o homem faz do mesmo e das
mudanças ocorridas ao longo do tempo. Assim, procura-se compreender quais
fatores vieram a contribuir na transformação do nosso estudo de caso, no caso,
a Praça do Ferreira em Fortaleza (CE), ou seja, como um espaço tão privilegiado
pelas sociedades passadas, enquanto local de lazer e sociabilidade, vai
perdendo essa função. Quais processos de ordem econômica, política e cultural
contribuíram e contribuem para que esses espaços públicos percam suas antigas
funções e adquiram novos usos e significados?
Ao longo da história das administrações
municipais em nosso país, as praças vêm sendo alvo de transformações, fruto das
investidas dos gestores que mostram pouco compromisso em conservar as marcas
espaciais deixadas pelas gerações pretéritas. À cada administração, elas são
destruídas ou reformadas, e, assim, vão ganhando novas formas. Um exemplo de
tais modificações é a Praça do Ferreira, que vem, ao longo de várias décadas,
incorporando novas formas, pela intervenção urbana dos organismos gestores da
cidade em seu processo histórico.
Algumas praças perderam quase
que totalmente a função a que haviam se destinado, ou seja, de local do
passeio, do encontro e da sociabilidade, inicialmente, para as classes
privilegiadas economicamente, transformaram-se em locais degradados e com
práticas variadas não condizentes com a finalidade primordial desses espaços
públicos. Tornaram-se espaços barulhentos, caóticos, onde são comuns vendedores
ambulantes, moradores de rua, além de outros usos. Perdeu-se no tempo a beleza
romanesca das antigas praças e a funcionalidade que as mesmas proporcionavam.
Esse é o caso da Praça do Ferreira, no Centro de Fortaleza. Hoje ela é muito
mais lugar de passagem de pedestres e de circulação do comércio ambulante,
embora continue a ser ponto de encontro, trabalho, serviços, diversão e de
sociabilidade para alguns segmentos da população, notadamente os aposentados,
testemunhas do final dos “tempos áureos”, quando jovens e letrados discutiam,
naquele lugar, as novidades do futebol ou o destino político e econômico do País.
Para alguns, hoje, a Praça do
Ferreira não é mais o “coração da cidade de Fortaleza”, como foi alcunhado
durante muito tempo, não é mais o centro cívico da cidade, não é mais o local
de aglomerações espontâneas, movimentos e encontros, salvo para aqueles que
ainda resistem às modificações sócio-espaciais impostas pelas novas dinâmicas
que geraram e foram geradas pela força do capital, associada aos ditames das
gestões públicas e que, por sua vez, sucumbem à força de suas próprias
reminiscências, subjetividades, memórias, lembranças, histórias e, acima de
tudo, vivências. Portanto, não é mais a Ágora Contemporânea.
A Praça do Ferreira passou por
inúmeras reformas, sendo que a última alteração em sua configuração
físico-espacial, ou seja, a sua última reforma urbana ocorreu em1991. O
arquiteto Fausto Nilo, criador inclusive de outros projetos públicos na cidade
de Fortaleza, foi o responsável pelo projeto da última reforma urbana da Praça
do Ferreira (na gestão do então prefeito Juraci Magalhães) e que perdura até os
dias atuais. Essa reforma teve como característica resgatar, através de seus
equipamentos e mobiliários, a atmosfera nostálgica de outros tempos e a força
de uma centralidade urbana, para alguns, há muito inexistente, em detrimento de
outras centralidades que foram se forjando, posteriormente, na cidade.
Prof. Dr. Frederico Augusto
Nunes de Macêdo Costa
Coordenador de Arquitetura e
Urbanismo da UniAteneu,
Doutor em Planejamento Urbano
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