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quinta-feira, 30 de abril de 2020

ABRIL] Um estudo de caso sobre a importância dos espaços urbanos de uma cidade: a Praça do Ferreira em Fortaleza (CE)


 
É imprescindível a compreensão dos efeitos causados pela modernidade nos modos de vida da sociedade fortalezense e como estes interferiram e interferem na dinâmica e hábitos de vida de sua população. Desse modo, o estudo dos espaços públicos e de suas atividades, inseridas no contexto da cidade, remete-nos a uma discussão em âmbito mais geral, e, de forma especial, como as inovações tecnológicas atuam diretamente na transformação do espaço, não só de forma generalizada, mas como estas modificações podem ser explicadas levando em conta a realidade local.

O espaço urbano constitui um produto social em constante processo de transformação e seu estudo torna-se necessário para uma maior compreensão do uso que o homem faz do mesmo e das mudanças ocorridas ao longo do tempo. Assim, procura-se compreender quais fatores vieram a contribuir na transformação do nosso estudo de caso, no caso, a Praça do Ferreira em Fortaleza (CE), ou seja, como um espaço tão privilegiado pelas sociedades passadas, enquanto local de lazer e sociabilidade, vai perdendo essa função. Quais processos de ordem econômica, política e cultural contribuíram e contribuem para que esses espaços públicos percam suas antigas funções e adquiram novos usos e significados?

Ao longo da história das administrações municipais em nosso país, as praças vêm sendo alvo de transformações, fruto das investidas dos gestores que mostram pouco compromisso em conservar as marcas espaciais deixadas pelas gerações pretéritas. À cada administração, elas são destruídas ou reformadas, e, assim, vão ganhando novas formas. Um exemplo de tais modificações é a Praça do Ferreira, que vem, ao longo de várias décadas, incorporando novas formas, pela intervenção urbana dos organismos gestores da cidade em seu processo histórico.

Algumas praças perderam quase que totalmente a função a que haviam se destinado, ou seja, de local do passeio, do encontro e da sociabilidade, inicialmente, para as classes privilegiadas economicamente, transformaram-se em locais degradados e com práticas variadas não condizentes com a finalidade primordial desses espaços públicos. Tornaram-se espaços barulhentos, caóticos, onde são comuns vendedores ambulantes, moradores de rua, além de outros usos. Perdeu-se no tempo a beleza romanesca das antigas praças e a funcionalidade que as mesmas proporcionavam. Esse é o caso da Praça do Ferreira, no Centro de Fortaleza. Hoje ela é muito mais lugar de passagem de pedestres e de circulação do comércio ambulante, embora continue a ser ponto de encontro, trabalho, serviços, diversão e de sociabilidade para alguns segmentos da população, notadamente os aposentados, testemunhas do final dos “tempos áureos”, quando jovens e letrados discutiam, naquele lugar, as novidades do futebol ou o destino político e econômico do País.

Para alguns, hoje, a Praça do Ferreira não é mais o “coração da cidade de Fortaleza”, como foi alcunhado durante muito tempo, não é mais o centro cívico da cidade, não é mais o local de aglomerações espontâneas, movimentos e encontros, salvo para aqueles que ainda resistem às modificações sócio-espaciais impostas pelas novas dinâmicas que geraram e foram geradas pela força do capital, associada aos ditames das gestões públicas e que, por sua vez, sucumbem à força de suas próprias reminiscências, subjetividades, memórias, lembranças, histórias e, acima de tudo, vivências. Portanto, não é mais a Ágora Contemporânea.

A Praça do Ferreira passou por inúmeras reformas, sendo que a última alteração em sua configuração físico-espacial, ou seja, a sua última reforma urbana ocorreu em1991. O arquiteto Fausto Nilo, criador inclusive de outros projetos públicos na cidade de Fortaleza, foi o responsável pelo projeto da última reforma urbana da Praça do Ferreira (na gestão do então prefeito Juraci Magalhães) e que perdura até os dias atuais. Essa reforma teve como característica resgatar, através de seus equipamentos e mobiliários, a atmosfera nostálgica de outros tempos e a força de uma centralidade urbana, para alguns, há muito inexistente, em detrimento de outras centralidades que foram se forjando, posteriormente, na cidade.
  
Prof. Dr. Frederico Augusto Nunes de Macêdo Costa
Coordenador de Arquitetura e Urbanismo da UniAteneu,
Doutor em Planejamento Urbano

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