Exportação de carne e os impactos
na economia brasileira – Janguiê Diniz – Mestre e Doutor em Direito – Reitor da
UNINASSAU – Centro Universitário Maurício de Nassau – Fundador e Presidente do
Conselho de Administração do Grupo Ser Educacional – janguie@sereducacional.com
Talvez alguns não saibam, mas o
Brasil é o segundo maior produtor de carne bovina do mundo e o maior
exportador. As carnes brasileiras são o terceiro maior produto de exportação do
País e símbolo de qualidade para mais de 150 países. Porém, esse padrão de
qualidade foi questionado com a deflagração da Operação Carne Fraca, da Polícia
Federal, que revelou esquemas de propinas para alteração de datas de validade,
injeção de água nos produtos para aumento de peso e até a mistura de papelão nas
carnes.
O escândalo, que se espalhou
rapidamente pela imprensa nacional e mundial, deixou dúvidas em relação à
qualidade da carne brasileira e levou os principais compradores do Brasil a
pedirem suspensão das encomendas dos frigoríficos suspeitos. Como um efeito
cascata, a China, União Europeia, Coreia do Sul e Chile anunciaram a suspensão
temporária da compra do produto brasileiro.
Nacionalmente, a Operação Carne
Fraca já teria o potencial de causar estragos no mercado interno. Afinal, este
é um produto de alto valor para as famílias brasileiras e ninguém quer comprar
ou consumir uma carne estragada. Esse é o mesmo pensamento que os consumidores
externos têm, neste momento, da carne brasileira. O Brasil levou anos para
atingir os mercados mais respeitados do mundo – a exportação de carne bovina
ganhou força em meados de 2000 – e agora, graças à corrupção que afeta todos os
setores do país, o segmento está com a imagem abalada.
No ano passado, as exportações
brasileiras do produto somaram mais de US$ 14 bilhões, cerca de R$ 43 bilhões,
ou 7,5% do total exportado, ficando atrás apenas do minério de ferro e da soja.
Agora, após a deflagração da Operação, o Ministério da Agricultura calcula US$
1,5 bilhões de dólares de prejuízo. Já a Associação de Comércio Exterior
calcula perda de US$ 2,7 bilhões neste ano e a exportação do produto deve cair
20%.
Os dados não devem parar por aí.
Segundo estimativa da consultoria LCA consultores, se todos os países fecharem
as portas ao produto brasileiro, sendo este o pior cenário, o impacto no PIB
pode ser de até 1 ponto porcentual. Ou seja, se a previsão oficial do governo,
que deve ser revisada para baixo nos próximos dias, é de crescimento de 1% para
2017, caso a hipótese mais pessimista se confirme, a recuperação econômica do
país só começaria a ser vista em 2018.
De tudo o que é produzido
anualmente, o Brasil exporta menos de 20% do que produz de carne bovina, 18% de
suínos e 30% de frango. Entretanto, o setor agropecuário brasileiro passou anos
para conquistar o mercado externo. Algumas décadas atrás, foi preciso muita
negociação e atingir altos padrões de qualidade para garantir que a carne
nacional estava livre da febre aftosa – doença que atingiu rebanhos de inúmeros
países do mundo. Agora, mais uma vez, nosso produto será questionado por sua
qualidade. É claro que os países estrangeiros colocarão dúvidas sobre o nosso
produto, por questões empresariais e sanitárias.
Dizer que voltaremos à estaca
zero nesse setor do mercado exterior é uma posição muito radical, mas este é um
caso que irá prejudicar, diretamente, a recuperação econômica brasileira. No
entanto, essa crise leva ao mesmo problema que tem feito o Brasil desandar: a
corrupção e, neste caso, a necessidade de melhorias nas políticas de avaliação
de qualidade dos produtos.
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