Em 16 de maio, 60% dos 5.570
municípios brasileiros já tinham registrado casos da doença e 21% contavam ao
menos um óbito
Mais de 7,8 milhões de
brasileiros estão a pelo menos quatro horas de distância de um município que
ofereça atendimento de alta complexidade, com Unidade de Terapia Intensiva
(UTI), equipamentos e pessoal especializado para doenças respiratórias graves e
agudas provocadas pela epidemia de Covid-19. Essa é uma das principais
conclusões da mais recente análise dos pesquisadores do Instituto de
Comunicação e Informação em Saúde (Icict), da Fiocruz.
Publicada na nota técnica do
sistema MonitoraCovid-19 (bigdata-covid19.icict.fiocruz.br) intitulada Regiões
e Redes Covid-19: Acesso aos serviços de saúde e fluxo de deslocamento de
pacientes em busca de internação, a análise mostra que a situação é pior nos
estados de Amazonas (1,3 milhão de habitantes), Pará (2,3 milhões) e Mato
Grosso (888 mil). Nessas três unidades da federação, mais de 20% da população
mora em áreas com até quatro horas de deslocamento para chegar ao município
mais próximo que ofereça condições de atendimento em casos graves de Covid-19.
Outras regiões com elevado
percentual de população que leva mais de quatro horas de deslocamento até um
município que ofereça atendimento especializado são o interior do Nordeste, o
norte de Minas Gerais e o sul do Piauí e do Maranhão.
A análise da equipe do Icict/Fiocruz
cruzou as informações de hospitalização por problemas respiratórios (entre eles
a Covid-19) do banco de dados do Sivep-Gripe, do Ministério da Saúde, com os
deslocamentos populacionais e as distâncias potencialmente percorridas pela
população, considerando as Regiões de Influência das Cidades (IBGE, 2018) e as
Regiões de Saúde (CIR) definidas pelas Secretarias Estaduais de Saúde.
A nota técnica constatou
também a rapidez da interiorização da Covid-19. Por exemplo, em apenas uma
semana (de 9 a 16 de maio), nos municípios com população entre 20 e 50 mil
habitantes, a cada dia seis cidades registravam pela primeira vez uma vítima
fatal de Covid-19. Entre municípios menores, com população de 10 a 20 mil
habitantes, na mesma semana cinco cidades a cada dia entravam na lista de
municípios com óbitos por Covid-19.
Na mesma semana, em média, nos
municípios com menos de 50 mil habitantes, a cada dia 15 cidades apresentavam
pela primeira vez casos de Covid-19 por dia. O primeiro caso de infecção por
Covid-19 foi registrado em 227 municípios com população menor que 10 mil
habitantes; em 197 com entre 10 e 20 mil habitantes; e em 112 com entre 20 e 50
mil habitantes. Até 16 de maio, 60% dos municípios brasileiros registravam
casos da doença e 21%, óbitos. Nos municípios com população acima de 50 mil
habitantes, 98% apresentavam casos e 58%, óbitos.
A nota técnica destaca a
importância da integração e do diálogo entre municípios, estados e União nas
políticas de contenção da Covid-19 e mostra o desafio representado pela
interiorização:
“Um dos grandes problemas para
a rede de saúde brasileira é a acessibilidade geográfica. O Brasil possui
dimensões continentais e, por isso, algumas regiões mais remotas impõem à sua
população o deslocamento de enormes distâncias para busca de atendimento (...)
É evidente que nem todos os municípios do país devem ter um centro de
tratamento intensivo, mas é necessário definir serviços de referência e
contrarreferência no atendimento à saúde, evitando vazios de atendimento, bem como
deslocamentos longos, que podem afetar o estado de saúde do indivíduo”, diz a
nota técnica.
A nota ainda conclui que a
definição e utilização de regiões compostas por conjunto de municípios é o
caminho para adoção de medidas de restrição ou relaxamento do isolamento
social.
Leia a nota na íntegra: https://bigdata-covid19.icict.fiocruz.br/nota_tecnica_7.pdf
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