O lançamento de “A Peleja da
Água - Reportagens Etnográficas”, o primeiro livro-reportagem publicado pelo O
POVO em seus 91 anos de história, será nesta quinta-feira, 4 de abril, às 19
horas, no Espaço O POVO de Cultura & Arte (na sede do O POVO – av. Aguanambi,
282, José Bonifácio).
Em 130 páginas, a obra se
abastece de duas décadas de cobertura jornalística, mapeada num recorte de 15
cadernos especiais, para investigar percursos e personagens e tratar,
principalmente, do que é o mergulhar reportagem adentro sobre o território
semiárido. A jornada foi iniciada em 2000, quando se especulava sobre a
transposição do rio São Francisco, e chega a 2019 falando dos sertões possíveis
de hoje. Houve um 2018 que choveu só até a média esperada e, nos seis anos anteriores
seguidos, 2012 a 2017, faltou água em muitos roçados e reservatórios. Daí o
pelejar do título.
"É um livro-reportagem
sobre reportagem, de uma cobertura que foi além da factualidade da pauta",
bem define o repórter Demitri Túlio, estradeiro de muitas apurações e um dos
que assinam a obra. A escrita também é regada pelos repórteres Ana Mary
C.Cavalcante, Cláudio Ribeiro, Jáder Santana e Thiago Paiva, todos do Núcleo de
Jornalismo Investigativo do O POVO. Por um mês, o grupo se embrenhou na
releitura do que o jornal abordou neste século XXI de chuvas eventuais, uma
grande seca e muitos aprendizados. Uma costura de perspectiva histórica e
jornalística.
"É uma trajetória de
cobertura que mostra uma sutil e profunda mudança na relação humana, da
sociedade e do poder público com os fenômenos ambientais. Não se pode dizer que
temos uma solução apaziguada e resolvida, mas os cadernos publicados mostram
como, ao longo do tempo, a seca vem deixando de ser o inimigo e como está se
aprendendo a conviver com ela, e com a chuva", explica Fátima Sudário,
editora e coordenadora do projeto. Nas edições factuais, o selo "A Peleja
da Água" abraça e nomina todo material que O POVO produz dentro dessa
temática.
A diretora-executiva da
Redação, Ana Naddaf, abre o livro apresentando o que foi destrinchar um sertão
por 20 anos. "O livro, que retrata nossa convivência com a seca, é uma
observação minuciosa de uma investigação etnográfica em permanente curso no O
POVO. Ao trabalhar com um híbrido entre jornalismo e literatura, abre a
possibilidade de explorar novos processos narrativos", explica. Segundo
Ana, continuar com a publicação de livros-reportagens, ou que exploram novas
instâncias de reportagens e séries já produzidas, pode significar um singular
caminho para o fazer jornalístico.
Émerson Maranhão, coordenador
de transmídia do O POVO, também dá suas linhas para o livro e explica, num dos
capítulos, como se deu o ingresso das narrativas audiovisuais como conteúdo das
reportagens especiais. Os webdocs e webséries chegaram sistematicamente ao
projeto há quatro anos. "São conteúdos específicos, tanto no audiovisual,
como no impresso ou no hotsite, mas que dialogam entre si, cada um autônomo e
complementar. É um processo coletivo de criação e hoje está consolidado e feito
com excelência", exalta.
Os conceitos sólidos desta
cobertura, segundo Maranhão, se afirmam desde a abordagem jornalística e
fotográfica ao produto audiovisual e todo o tratamento gráfico. "Toda vez
que o carro saiu com a equipe para o Interior, a gente foi em busca de um outro
olhar. Nunca a mesma história nem o mesmo lugar", constrói Gil Dicelli,
editor-executivo de Arte do O POVO. Ele assina a criação gráfica da maioria dos
15 especiais de reportagens que referenciam o livro.
Para as páginas da publicação
lançada nesta quinta, 4, Gil diz que a ideia de usar imagens com uma lente
macro "foi de buscar um olhar pela minúcia, de ver as coisas do sertão
pelos detalhes". Como uma pausa necessária para refletir sobre o fazer
dessa reportagem - ainda não concluída. No miolo da obra, está, por exemplo, a
linha do tempo e o contexto das estiagens insistentes - mais de 120 ocorrências
desde o século XVI - e a revisita a lugares e pessoas. Também as descobertas,
tensões, viradas de rumo e a gênese da pauta.
Também é co-autor do livro o
secretário estadual dos Recursos Hídricos, Francisco Teixeira. Ele detalha como
a estrutura e a política pública para o setor contribuíram para ir mudando a
realidade de convivência com a seca. O prefácio é da jornalista Eleuda de Carvalho,
doutora em Teoria Literária pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
professora da Universidade Federal de Tocantins (UFT) e reporteira/poeta de
muitos caminhos nos seus tempos de O POVO. A Peleja da Água - Reportagens
Etnográficas terá tiragem impressa limitada, mas brevemente ganhará versão
digital.
Durante o lançamento haverá um
show de voz, violão e sanfona mostrará algumas delas. A interpretação será do
jornalista Tarcísio Matos, cronista do O POVO, pesquisador e tradutor do cearês
ou cearencês - nosso idioma local. Ele estará na companhia da sanfona de
Freitas Filho e do violão de seu compadre Tarcísio Sardinha. Foi um repertório
garimpado pelo próprio Tarcísio Matos, mas com escolhas coincidentes com a
playlist dos reporteiros.
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