Em junho deste ano, foi
aplicada uma pesquisa com magistrados e jornalistas, para responder à seguinte
pergunta principal: “o que pensam os magistrados e os jornalistas a respeito da
magistratura?”. Realizada pela VSM Comunicação - agência responsável pela
Comunicação da Associação Cearense de Magistrados (ACM) - em parceria com a
jornalista e bacharel em Direito, Andrea Melo, a pesquisa aponta dois pontos
principais: 1) uma mudança (para melhor) na forma como estes dois públicos
enxergam a magistratura; e 2) uma distorção entre a perspectiva que os
jornalistas têm acerca da atuação dos juízes em relação àquilo que os próprios
magistrados apontam sobre seu trabalho.
Segundo Andrea Melo, a
pesquisa nasceu de uma inquietação que surgiu ao perceber uma imensa quantidade
de matérias negativas na imprensa, culpando o Judiciário por toda a morosidade
da Justiça e criando um estereótipo de que juiz não trabalha. No entanto, a
realidade é completamente diferente: a grande maioria dos juízes trabalha
muito, mais de 8 horas por dia. A partir dessa premissa, a autora resolveu
pesquisar as razões para a crescente taxa de congestionamento do Poder
Judiciário e investigar o que pensam os jornalistas a respeito do tema.
"Não devemos esquecer que
a Justiça é um sistema que envolve vários atores. Além de possuirmos uma imensa
quantidade de litigantes repetitivos, como o Estado e as grandes empresas,
somos o país com a maior quantidade de faculdade de Direito no mundo: 1.240,
segundo consta na publicação Guia do Estudante, da editora Abril. Para se ter uma ideia, o
restante do mundo junto possui 1.100 cursos de Direito. Se comparar a
quantidade de juízes x advogados, temos uma relação de 18 mil juízes para mais de um milhão de advogados
(1.144.196 )", ressalta.
Esta foi a segunda edição do
levantamento, que agora contou com a participação de 137 magistrados e de 65
jornalistas. No primeiro, em 2014, foram 72 e 57, respectivamente.
Um dos dados levantados nesta
pesquisa, que mostra uma grande diferença na forma como os jornalistas avaliam
a categoria, no tocante ao que os juízes dizem sobre sua rotina, foi em relação
ao estresse na profissão: 60% dos magistrados consideraram alto o seu nível de
estresse com relação à sobrecarga de trabalho; 29% consideram esse nível médio;
e 4% consideram baixo. Já os jornalistas imaginam o nível de estresse dos
magistrados da seguinte forma: 39% alto, 48% médio e 12% baixo.
Outro ponto: a pesquisa
perguntou se os magistrados costumam trabalhar aos finais de semana. Um total
de 59,85% respondeu que “sim” e 40,15% que “não”. Na contramão destes números,
75% dos jornalistas dizem que eles não trabalham aos sábados e domingos, e
apenas 25% dizem que sim.
Aos magistrados, foi
questionado: “quantas horas por dia você trabalha?” e 69% disseram que
trabalham mais de oito horas; 30% de 6 a 8 horas; 1% de 4 a 6 horas. Ninguém
respondeu menos de 4 horas. Já os jornalistas acham que apenas 6,15% dos juízes
trabalham mais de 8 horas; 24,62% de 6 a 8 horas, 47,69% de 4 a 6 horas; e
21,54% menos de 4 horas.
“Este levantamento é de
extrema importância para, em primeiro lugar, buscarmos entender o porquê de tão
grande distorção entre o que os juízes fazem e como os jornalistas, que
trabalham com fatos, enxergam a nossa atuação. Este é o primeiro passo para
mudarmos esta visão e melhorarmos, inclusive, a maneira de nos comunicarmos com
a sociedade, por meio da imprensa”, aponta o juiz Ricardo Alexandre Costa,
presidente da ACM.
Mudança no cenário apontado
pelos magistrados entre 2014 e 2018
A pesquisa realizada em junho
deste ano trouxe novidades em relação à que foi aplicada em janeiro de 2014.
Naquele ano, para os juízes, os principais motivos de estresse com a carreira
eram, na seguinte ordem: sobrecarga de trabalho, pouca quantidade de
servidores, imagem desgastada, remuneração injusta, ausência de segurança,
demora nas promoções e remoções.
Em 2018, sobrecarga de
trabalho e pouca quantidade de servidores continua no topo das preocupações,
seguidos por remuneração injusta, ausência de segurança, imagem desgastada,
demora nas promoções e remoções. “Os resultados mostram que os profissionais se
preocupam com o excesso de trabalho, e avalio que isso se dá em grande parte por
conta de outra causa de estresse: a imagem desgastada, que vai levar mais tempo
para mudar, uma vez que a maior produtividade dos juízes nos últimos anos não
está sendo suficiente para reduzir as taxas de congestionamento”, afirma
Ricardo Alexandre Costa.
De acordo com os resultados da
primeira pesquisa, 98,44% dos juízes acreditam que a imagem da sua profissão
era ruim, sendo “muito negativa” (54,69%) ou “negativa” (43,75%). Apenas 3,13%
acreditavam que a imagem do juiz era positiva. Nesta última pesquisa, 92%
continuam considerando a imagem da profissão ruim, sendo “muito negativa” (32%)
ou “negativa” (60%). Para 7% a imagem é positiva e para 1% é indiferente.
Mudança no cenário apontado
pelos jornalistas entre 2014 e 2018
Para os profissionais da
imprensa, nas duas edições da pesquisa foi questionado: “De quem é a culpa pela
morosidade na Justiça?” Em 2014, 68,5% achavam que era do Poder Judiciário e
11,11% do Sistema. Em 2018, 65% do Poder Judiciário e os demais, de forma
pulverizada, atribuíram a diversas causas: sistema, conjunto de fatores,
judicialização de tudo, etc.
Outro questionamento: “O que
vem à mente quando pensa no Poder Judiciário?”. Em 2014, 84% das respostas
tinham conotação negativa, como máfia, luxo, regalias, privilégios, desonestidade;
3,5% usaram palavras positivas como “comprometido” e “direitos humanos”; e
12,5% usaram palavras neutras como juiz, lei, autoridade e justiça. Em 2018,
77,77% utilizaram palavras negativas, como lento, moroso, corrupto, obscuro,
elitista, injusto, burocrático, falho; 12,7% usaram palavras positivas
(competente, fundamental, avançando, importante, confiável e responsabilidade);
e 9,6% usaram palavras neutras (direito, poder, juízes e justiça).
“Percebemos uma pequena, mas
significativa mudança na forma de ver a magistratura, e sabemos que esta visão
menos negativa se dá pela divulgação de iniciativas exitosas, de projetos e
boas práticas que passaram a ser mais conhecidos pela sociedade em geral.
Sabemos que esta parceria entre magistratura e imprensa é essencial para que o
principal interessado – a população – tenha conhecimento acertado do nosso
papel e possa desfrutar dos seus direitos”, finaliza o presidente da ACM.
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