“O Sagrado Coração do Ceará”
reúne mais de 200 tesouros da cultura religiosa do Estado
Dando continuidade à programação do
ciclo temático especial de dezembro, “Ceará Sagrado”, o Centro Dragão do Mar de
Arte e Cultura abre nesta quinta-feira (20), às 19h30, no Memorial da Cultura
Cearense, a exposição “O Sagrado Coração do Ceará”, com curadoria dos
pesquisadores Gilmar de Carvalho e Dodora Guimarães. A abertura contará com
coquetel e apresentação da banda cearense Syntagma.
O Sagrado Coração do Ceará
trata-se de um marco da nova gestão do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura,
na medida em que propõe apresentar ao público um acervo extremamente rico, mas
que permanece espalhado e disperso em diversas regiões e instituições do
Estado, por isso desconhecido e pouco divulgado. A mostra lança luzes sobre a
relação do cearense com o sagrado e seus ritos religiosos. São mais de 200
peças cedidas por importantes coleções, como: Museu Diocesano Dom José de
Sobral, Museu de Arte Sacra de Aquiraz, Museu Jaguaribano de Aracati, Museu
Padre Cícero do Horto de Juazeiro Norte, Casa dos Milagres Juazeiro do Norte,
Museu do Ceará de Fortaleza, Casa dos Milagres, Memorial Padre Antônio Vieira,
de Viçosa do Ceará , e Museu de Canindé.
A exposição prima por uma
reflexão sobre os vastos caminhos da religiosidade cearense e suas múltiplas
manifestações, representadas na diversidade própria da fé nordestina, reunindo
em um único conjunto signos das tradições: católica portuguesa, com seus
inúmeros padroeiros espalhados pelos municípios cearenses; indígena, que nos
fascina com suas danças dramáticas tão cheias de política, o manto tapeba e
todo o legado deixado ao longo dos quase 513 anos de Brasil; africana, com seus
cantos e ritos, da calunga e da história de resistência; cultos e santos
populares, nos presenteando com a trajetória de Mártir Francisca ou Santa
Adelaide canonizadas pelo povo, e, por fim, a beleza flexível das crenças
sobrepostas, como o maracatu e a umbanda, que atrelam signos indígenas e afros
e nos remete à ideia de quão articulada e grandiosa é a fé no coração do
cearense.
A partir de uma perspectiva macro
de religiosidade e fé, a mostra concilia objetos, esculturas, fotografias,
arquivo visual, pinturas, adereços, acessórios de cultos, música incidental,
imagens em movimento, xilogravuras e outros recursos narrativos próprios da
liturgia abordada.
Segundo Dodora Guimarães, as
peças foram escolhidas por mostrarem uma arte genuinamente brasileira, que faz
com que nos reconheçamos nela. “Um aspecto interessante é a singularidade das
obras de cada região, o que mostra a pluralidade do nosso povo e os mistérios
da cultura”, afirma a curadora. A mostra segue em cartaz até 19 de março de
2013.
Os cinco núcleos
A exposição é estruturada em cinco
núcleos, o que reforça a pluralidade e o respeito por todas as cenas
religiosas. “O Juazeiro do Padre Cícero” visita a Ladeira do Horto e as suas
romarias, foca as paredes votivas e os altares domésticos, vai à Casa dos
Milagres, adentra o Centro Cultural Mestre Noza. O sentimento romeiro se evidencia na força
que emana dessas vivências e extrapola qualquer racionalismo.
“São Francisco de Canindé” mostra como um
santo europeu ganhou cidadania sertaneja e se transformou em um vaqueiro, com
gibão, perneiras, chapéu, enfrentando a rês desgarrada nos confins das terras
mais áridas. Vem gente de todo o Nordeste em busca deste homem de Assis,
Itália, que rejeitou os sinais evidentes de riqueza, e tentou colocar a Igreja
dentro de outros parâmetros. Ficou a fé, a defesa da ecologia, a rejeição da
pompa e um jeito que se afina com o jeito de ser destas populações tão carentes
quanto devotas.
“Sobral de Dom José Tupinambá da Frota”
apresenta o apogeu dos rituais e a força do catolicismo canônico, fiel às
normas de Roma, com toda a ortodoxia vigente. A recolha feita pelo “Bispo
Conde” se traduz numa rica estatuária e objetos vindos do Museu Dom José de
Sobral. Aqui, também, a força do povo se reforça na expressão de pintores e
escultores cearenses do séc. XIX e nas marcas nativas que esses objetos
transplantados ganharam com o tempo e com as possibilidades das apropriações
feitas.
“São José e os Santos Padroeiros” passeia
pela diversidade dos oragos protetores de vários municípios, evidenciando,
através das imagens, devoções, gratidões e fidelidades.
“Crenças e Cultos” aborda expressões das
nossas raízes, desde as missões jesuíticas, dentre as quais se evidencia a
Missão da Ibiapaba, que resultou na cidade de Viçosa do Ceará, onde Padre
Antônio Vieira pregou. Depois de anos de apagamento, esquecimento e rejeição,
as etnias indígenas resistiram, seus rituais permaneceram e se atualizaram na
contemporaneidade, ocupando a cena religiosa com a Dança do Toré, seus
encantados e mitologias. A cultura africana, também subjacente, é referendada
nas suas expressões que remetem às irmandades religiosas que coroavam seus reis
e rainhas, nas procissões que resultaram no maracatu, cortejo solene, com sua
batida plangente, deslocado, depois, para o carnaval de rua.
Banda Syntagma
Com influências medievais,
renascentistas e barrocas, resultante de um apurado trabalho de pesquisa, o
grupo construiu um elo com a música nordestina contemporânea através da mistura
de instrumentos de base como quinteto de flautas, o cravo, a viola de gambá, o
violão e a percussão com instrumentos antigos, como saltério e o alaúde,
conseguindo uma sonoridade peculiar.
Serviço: Abertura da exposição “O
Sagrado Coração do Ceará”, dia 20, às 19h30, no Memorial da Cultura Cearense,
com apresentação do Grupo Syntagma. Acesso livre.
Mais informações: Assessoria de
Comunicação do IACC: 3488.8625 / 87338829
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