Exposição reunirá 72 trabalhos de
autoria de André Liohn, Mauricio Lima, Gabriel Chaim, Yan Boechat, João
Castellano e Felipe Dana
O Museu da Fotografia Fortaleza
recebe, a partir de 3 de outubro, Na Linha de Frente, exposição que reúne
trabalhos dos principais fotógrafos brasileiros de conflitos armados – vertente
da fotografia com o qual começamos a flertar muito recentemente apenas. A
mostra, que tem curadoria de Fernando Costa Netto, apresentará ao público mais
de 70 registros de fotojornalistas ainda em atividade. São trabalhos de figuras
como Mauricio Lima, vencedor do prêmio Pulitzer de 2016, e de André Liohn,
ganhador da prestigiada Robert Capa Gold Medal, 2011.
Ao longo das últimas décadas, não
foram raros os conflitos ao redor do mundo. Duas Guerras Mundiais, o
interminável embate entre Israel e Palestina, além de confrontos emblemáticos
em locais como Coreia, Irã, Vietnã, Congo, Angola, Líbano e Afeganistão. Na
maioria das vezes, a história que correu no front foi contada pelas lentes de
fotógrafos norte-americanos, franceses e japoneses. Em nenhum desses episódios
tivemos uma forte cobertura fotográfica brasileira.
“A não ser nas salas de cinema,
nunca havíamos estado nas primeiras filas acompanhando uma batalha”, afirma o
curador da exposição, que abarca ensaios sobre a produção brasileira de
fotografia de guerra e suas nefastas consequências. Além dos registros de Mauricio
Lima e André Liohn, o público também será apresentado aos trabalhos de Yan
Boechat, João Castellano, Felipe Dana e Gabriel Chaim – este último,
fotojornalista que teve suas imagens da Síria e do Iraque exibidas durante duas
turnês mundiais da banda irlandesa U2.
“São registros surpreendentes,
que entram pelos poros – infelizmente, nos tocam pela estupidez e dor. Através
do olhar desses bravos brasileiros, temos acesso privilegiado a esses momentos
da história, além da chance de poder refletir a respeito do que os leva a
acontecer e o absurdo que representam”, completa Fernando.
Os trabalhos selecionados para a
exposição apresentam ao visitante olhares pouco convencionais sobre a guerra da
Líbia durante a deposição do ditador Muamar Kadafi; a retomada de Mossul,
cidade iraquiana que esteve sob domínio do Estado Islâmico; a vida em um campo
de refugiados no norte do Iraque e também a destruição que tomou conta das
cidades de Alepo e Kobani, na Síria. A mostra traz ainda o relato fotográfico
da jornada de uma família que deixou o norte do país em busca de uma nova vida
na Europa.
Os fotógrafos
Natural de Botucatu, no interior
de São Paulo, André Liohn é autor de um trabalho marcado pela crueza e
originalidade e por sua capacidade em colocar o espectador a um braço de
distância da destruição e do sofrimento causados pelos conflitos. Sem filtros é
o nome do ensaio que traz o retrato das vítimas da Guerra Civil na Líbia, de
rebeldes a soldados do ditador Muamar Kadafi.
O fotógrafo Mauricio Lima se
define como um contador de histórias - humanas, essencialmente. É o que ele faz
em Farida, um Conto Sírio, série-síntese da história de milhares de refugiados
do Oriente Médio que, em 2015, abandonaram suas casas, deixando para trás vidas
inteiras – famílias, bens e histórias. Durante sua jornada, o fotógrafo
conheceu a família Majid, que percorreu 6 mil quilômetros, de Afrim, na Síria,
até a cidade de Backhammar, na Suécia, onde vivem hoje. Ao longo desta epopeia,
sua relação com seus fotografados se transformou em cumplicidade. Como
fotógrafo, Mauricio visa não só provocar reações em seu interlocutor, mas
exige-lhe mudanças para que juntos possam transformar o mundo em um lugar mais
justo para se viver.
Sonhos é a série apresentada pelo
fotojornalista João Castellano, que retrata o impacto devastador da guerra
contra o Estado Islâmico nas crianças sobreviventes, que tiveram sua vida
interrompida pelo conflito: perderam parentes, amigos, casa, brinquedos. Seus
sonhos, entretanto, seguem intactos. Como qualquer criança, sonham com um
futuro onde poderão ser médicos, professores, jogadores. Seus retratos traduzem
esse sentimento: têm uma expressão grave e ao mesmo tempo serena. Nos poucos
segundos de captura de seus semblantes, não são mais vítimas – tornam-se protagonistas.
O paraense Gabriel Chaim
apresenta Manifesto Inequívoco, registro das violentas e covardes ações do
ditador Bashar Al-Assad, em Alepo, na Síria. Suas fotografias são manifestos
inequívocos de que a sociedade vai mal e os inocentes são os que pagam esta
conta. O fotógrafo retrata a guerra, trazendo à luz o impacto dos conflitos à
parte mais fraca e oprimida: crianças, jovens, mulheres e idosos.
O jornalista Yan Boechat revela,
por fotos, aquilo que não é capaz de traduzir em palavras. Suas fotografias são
a forma que ele encontrou para conhecer e levar à público situações, eventos e
momentos que precisam ser trazidos à tona e discutidos. Na série Uma visão
independente, ele apresenta relances das batalhas entre o Estado Islâmico e as
forças armadas iraquianas em Mossul, cidade do norte do Iraque.
A barbárie que acomete a cidade
iraquiana é também o pano de fundo de Faces da Guerra, ensaio de Felipe Dana,
fotojornalista da Associated Press que tem passado longas temporadas na região.
Em seu dia a dia, ele produz vídeos por drones e retratos com lentes curtas,
levando seu interlocutor a cenários bem próximos das cenas retratadas.
Institucional
Compreendendo sua função social
para além do espaço expositivo, o Museu da Fotografia realiza uma série de
ações que têm como objetivo a divulgação de novos talentos e a promoção da
fotografia contemporânea a partir da realização de cursos e visitas guiadas
para a terceira idade e de oficinas e workshops voltados a artistas, estudantes
e educadores – resultado, inclusive, da proximidade da instituição junto às
Secretarias de Cultura (Secult) e de Educação do Estado (Seduc) e às
Secretarias Municipais da Educação (SME) e de Cultura de Fortaleza (Secultfor).
O MFF tem também uma equipe de monitoria formada pelos alunos dos cursos de
Comunicação Social, Pedagogia e Artes Visuais do Instituto Federal do Ceará
(IFC), da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e da Universidade de
Fortaleza (UNIFOR).
Na Linha de Frente
Local: Museu da Fotografia
Fortaleza
Endereço: Rua Frederico Borges,
545 | Varjota | Fortaleza – CE
Período expositivo: de 3 de
outubro de 2017 a
maio de 2018
Visitação: de quarta-feira a
sábado, das 12h às 17h
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