Ao trazer o corpo para a
discussão, precisamos, entre outros aspectos, considerá-lo pelas relações de
que é capaz de gerar. Em profunda cumplicidade com a vida, o corpo salta e se
desprende de sua identidade, pronto para a criação de outros contornos e modos
de existir. Ele é babel, invenção, sujeito e objeto... Traz em si uma
ambiguidade constitutiva de nossa experiência como carne reversível e organismo
mutante.
Corpo e desconstrução são
questões da exposição Em Desalinho, cuja curadoria é assinada por Ana Cecília
Soares e Júnior Pimenta, e inaugura um novo espaço de arte em Fortaleza, a Sem
Título Galeria.
Em Desalinho nos apresenta
poéticas de artistas que se encontram pelas distintas possibilidades de olhar e
pensar o corpo no contexto contemporâneo: a tensão entre a presença e a
ausência, as questões de gênero, a nova tentativa de configurar a corporeidade,
desfigurá-la e fazê-la ressurgir sob outra forma.
Em meio a tal conjuntura,
deparamo-nos com trabalhos em incessante transcurso de desnaturalização daquilo
que está posto ou firmado. Assim, sobressaem-nos figuras que despontam entre a
sombra e a luz, o real e o fantástico, o grotesco e o fascínio. Pelos traços
minuciosos de Ingra Rabelo e José de Arimatéa, seres escorrem para fora de si,
exibindo-se desafiantes e dilatando o olhar.
Mais adiante, Luiza Veras, Gilvan
Barreto e Jas-One dão continuidade ao diálogo, brandindo fisionomias
contorcidas e desagregadas que buscam meios de se reinventar a partir de
singularidades perturbadoras em furor aos modelos de corpos perfeitos. Na
poética de Yuri Firmeza, a corporeidade ganha nova esfera, parece mergulhar
numa tentativa de resistir ao esquecimento, embora, sujeito ao esvaecer fadário
no que se refere à existência de uma imagem. Metáfora à memória que resiste ao
tempo e a própria morte.
As obras de Dalton Paula, Célio Celestino,
Henrique Viudez e Maurício Coutinho reverberam (des)construções de infinitas
identidades e maneiras outras de existir. O que faz com que as coisas sejam
como são? Somos interpelados quando confrontados com as poéticas desses
artistas. As representações existem porque alguém as criou. E se alguém as
produziu é porque podem também ser desconstruídas. Na arte como na vida vivemos
esse movimento de reestruturação.
Na exposição Em Desalinho, o
corpo é residência precária e transitória, habitada em seu todo ou em
fragmentos, imersa na enxurrada do tempo e das coisas. Melhor dizendo, nas
palavras de Deleuze sobre o artista Francis Bacon, “a figura não é apenas o
corpo isolado, mas o corpo deformado que escapa...”.
Em Desalinho será aberta ao
público no dia 23 de setembro, às 19 horas, na Sem Título Galeria (Rua João
Carvalho, 68). Durante os meses de exposição, de setembro a dezembro de 2016,
serão realizadas conversas com os artistas envolvidos, mediadas por pesquisadores; minicursos; mostras de vídeo com o mesmo
recorte curatorial e visitas guiadas.
ARTISTAS PARTICIPANTES:
Célio Celestino
Dalton Paula
Gilvan Barreto
Henrique Viudez
Ingra Rabelo
Jas-One
José de Arimatéa
Luiza Veras
Maurício Coutinho
Yuri Firmeza
CURADORIA:
Ana Cecília Soares e Júnior
Pimenta
Sobre a Sem Título Galeria:
Quando um novo espaço de arte
surge na cidade são novos modos de existir que passam a habitar o território.
Tal um vaga-lume na paisagem e seus pequenos lampejos, um campo aberto para a
aventura do pensamento, do sensível e dos jogos de afetos. O filósofo e
historiador francês Michel de Certeau partilha da concepção de que “praticamos
o espaço”. Praticar o espaço é repetir as experiências de infância. É, naquele
lugar, ser outro e passar ao outro e ao outro... E assim se tornar múltiplo.
A Sem Título Galeria se propõe a
ser esse espaço de engajamento no presente, de reunir em trocas e intercâmbios
artistas visuais, realizadores e curadores, pensadores e os moradores da cidade
de Fortaleza. São encontros que vão se dando através da produção e circulação
da Arte Contemporânea; das exposições articuladas ao trabalho de curadores; da
composição de grupos de estudos para refletir sobre questões do contemporâneo,-
o inatual de pertencer e não pertencer ao seu tempo; dos workshops e cursos que
fortaleçam a produção do pensamento e criação em arte.
Sem Título vem de uma ideia que
não carrega em si a preocupação de tudo nomear ou classificar. O fazer
artístico é assim entendido como um gesto de observar o mundo e dele extrair e
criar fissuras, um exercício do olhar que é político, ético e estético. Sob a
direção da pesquisadora e artista visual Elizabeth Guabiraba, o espaço se abre
à cidade fortalecendo um cenário de formação e incentivo à produção de arte tão
necessário aos nossos tempos.
SERVIÇO:
ABERTURA DA EXPOSIÇÃO
23 de setembro, às 19 horas
Setembro a dezembro de 2016
LOCAL
Sem Título Galeria
Rua João Carvalho, 66 – Fortaleza
/ CE
http://www.semtitulo.art.br
85 98881.8261 (OI) / 85
99925.9825 (TIM)
@semtitulogaleria
semtitulogaleria@gmail.com
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