Uma tarde para celebrar a cultura
tradicional popular e a chegada dos novos mestres e mestras da cultura. O
Theatro José de Alencar ficou lotado na tarde do dia 25 de junho, com o evento
de diplomação de 16 novos mestres e mestras da cultura, dois grupos de tradição
e uma coletividade selecionados através do Edital dos Tesouros Vivos da Cultura
da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult). A cerimônia foi marcada por apresentações de
mestres recém-diplomados como Macaúba, Geraldo Amâncio, da mestra Mãe Zimá,
além do grupo de tradição Maracatu Az de Ouro e e do Reisado da Família Ramos.
Com a presença da vice-governadora do Ceará, Izolda Cela, representando o
governador Camilo Santana, do secretário da Cultura do Estado do Ceará, Fabiano
Piúba e do reitor da Universidade Estadual do Ceará, Jackson Sampaio, que
concedeu o Título de Notório Saber aos mestres, o momento também foi marcado
pelo lançamento de novo edital para seleção de mais Tesouros Vivos da Cultura,
cumprindo a meta do Plano Estadual de Cultura do Ceará, que prevê a ampliação
do número de Mestres e Mestras da Cultura do Estado de 60 para 80 até 2018.
"Essa diplomação é um
reconhecimento do precioso saber portador de nossa ancestralidade. Reconhecemos
nos mestres essa diversidade de saberes que fazem a cultura cearense. É muito
importante reconhecer, apoiar e que isso tenha repercussão principalmente no
cenário da educação. Levar os mestres para dentro das escolas e universidades é
o que vai potencializar ainda mais esse programa com os mestres. Esses
encontros e trocas de saberes são tão valiosos num tempo em que é necessário
fazer contrapontos à cultura passada pela mídia. Toda essa ação nos é muito
cara. O governador Camilo Santana garantiu a continuidade desse projeto e expandiu
os Tesouros Vivos. O poder público tem obrigação de fazer com que essa cultura
e saberes populares sejam cultivados", destacou a vice-governadora Izolda
Cela em sua fala.
Já o secretário da Cultura do
Estado do Ceará, Fabiano Piúba, definiu os mestres como "seres ancestrais,
seres de educação, seres de imaginação e seres de criação". "Os
mestres e mestras da Cultura são pessoas feitas das purezas dos tempos eternos.
São senhores e senhoras de memória que trazem consigo saberes e fazeres
ancestrais que atravessam os tempos. Mas seus saberes não ficam abandonados em
baús mofados guardados no esquecimento: são compartilhados de mão em mão, de
boca em boca por entre gerações em ambientes comunitários e solidários de
transmissão de saberes. Cada mestre e mestra é um ser de educação que ensina
seus conhecimentos como uma missão de vida", pontou o gestor.
"Os saberes dos mestres não
estão estancados no tempo, muito pelo contrário. Quando dizemos que são seres
de imaginação é porque estão concebendo, pensando e elaborando sua própria
temporalidade no aqui e no agora. Ao tempo que são guardiões de memória e
ancestralidade, são seres de criação: estão tramando e tecendo, inventando e
reinventado, criando e produzindo suas artes e ofícios como expressões
contemporânea. Sim, cultura popular é contemporânea. Patrimônio cultural vai
para além da noção de preservação e proteção. Patrimônio cultural é também
criação. Assim sendo, o reconhecimento e valorização dos mestres e mestras da
cultura do Ceará estão inseridas numa política de salvaguarda de patrimônio
cultural garantidas pelas lei estadual 13. 351 de 2003 e pela lei 13.842 de
2006, que institui o registro dos mestres e tesouros vivos da cultura
tradicional popular", ressaltou o secretário.
Cultura acadêmica e cultura
popular
Após receberem os diplomas, os
mestres e mestras da cultura receberam do Reitor da Universidade Estadual do
Ceará, Jackson Sampaio, o Título de Notório Saber em Cultura Popular. Saudando
o Conselho Universitário presente, que aprovou a titulação dos mestres da
cultura, o reitor Jackson Sampaio fez suas considerações a respeito do fato
inédito no Brasil. "Com esse ato, a universidade, nesses mil anos de
instituição acadêmica, é capaz de reconhecer que conhecimento se faz também
fora dela. Há um tesouro da inteligência e da cultura popular que deve ser
reconhecido. É necessário legitimar os mestres no circuito público. Estamos
cumprindo nosso papel e a Uece se sente feliz colaborando com mais um selo para
esses metres que são exemplo para nossa cultura, para a inventividade e nossa
criatividade", frisou.
O encontro da cultura acadêmica
com a cultura popular também será celebrado nas escolas, com o Programa Escolas
da Cultura, numa parceria da Secretaria da Cultura e Secretaria de Educação do
Estado, com ressalta o secretário da Cultura, Fabiano Piúba. "Estamos
iniciando mais uma categoria do Programa Escolas da Cultura, nas escolas de
tempo integral no segundo semestre, em que os mestres vão estar inseridos na
grade curricular das escolas, compartilhando seus saberes com os
estudantes", comunicou.
Com o Título de Notório Saber, a
academia reconhece os saberes, os fazeres e as artes dos mestres, que poderão,
na prática, ser convidados por universidades e outras instituições de ensino
para palestras e outras atividades, sendo remunerados da mesma forma que
professores que contam com essa distinção. Portanto, esta é mais uma conquista
dos mestres e mestras da cultura do Ceará.
Mestre In Memorian
A filha do poeta Geraldo
Gonçalves, Polyana Gonçalves, emocionou o público com seu depoimento. Ela e a
irmã receberam a diplomação In Memorian de seu pai, que faleceu antes de se
concretizar a entrega do diploma de Mestre da Cultura. "Com a verba dos
Tesouros Vivos, ele teria bancado sua obra inédita que estava para ser
publicada. Agradeço a Secult e o Governo do Estado por ter colocado no lugar
que deveria estar: como Mestre da cultura do Estado", destacou a filha do
poeta de Assaré.
Novo edital seleciona mestres e
mestras
Lançado junto com a diplomação e
titulação dos Mestres da Cultura, o Edital dos “Tesouros Vivos da Cultura” de
2018 contempla a seleção e a titulação de até 11 Mestres ou Mestras da Cultura,
2 grupos e 1 coletividade como Tesouros Vivos da Cultura do Estado do Ceará. O
edital está disponível na íntegra no site da Secretaria da Cultura do Estado do
Ceará: www.secult.ce.gov.br.
O Edital dos “Tesouros Vivos da
Cultura” do Estado do Ceará é parte da política cultural da Secult voltada ao
patrimônio imaterial, que visa contribuir para o reconhecimento, a proteção e a
valorização da diversidade dos conhecimentos, fazeres e expressões das culturas
populares e tradicionais no Ceará, por meio da titulação dos “Tesouros Vivos da
Cultura”, com vistas à preservação da memória cultural e transmissão de seus
saberes e fazeres artísticos e culturais.
Fotos: Salviano Lobo
Conheça os novos mestres
Geraldo Amâncio (Fortaleza). É
considerado um dos maiores cantadores/repentistas, em atividade, do Nordeste.
Gravou 18 discos de cantoria fazendo dupla com renomados cantadores e recebeu
mais de 150 prêmios nas cerca de 200 cantorias/festivais.
Hugo Pereira (Majorlândia).
Lidera o grupo Grupo de Dança de Coco da
Majorlândia que tem registro
documentado pelo folclorista Florival Seraine, no seu livro Antologia do
Folclore Cearense e pelo pesquisador Oswald Barroso.
Jaime Arnaldo Rodrigues
(Barbalha). Ladrilheiro hidráulico, há
58 anos mantém-se da atividade, consagrando-se como o mais antigo e único
atuante nessa profissão, já que, a fabricação do ladrilho hidráulico é um
processo que prescinde da atividade manual/ artesanal.
João Paulo Vieira (Meruoca). Mestre
de Reisado "de Careta", sua atuação mais permanente foi à frente do
grupo de bumba-meu-boi Estrela da Serra, formado
por cerca de 20 brincantes e que
se apresenta nas comunidades de Recife e Frecheiras da Boa Vista, do município
de Meruoca.
Zé Carneiro (Pacoti). Mateiro e
guia, conhecendo palmo a palmo as reservas naturais dos sítios de Pacoti e
municípios vizinhos, como Guaramiranga, Palmácia, Mulungu e Baturité. Sua
popularidade cresceu depois que encontrou, nessas buscas com pesquisadores,
espécies endêmicas, ou seja, animais que somente existem na serra de Baturité.
Macaúba (Fortaleza). Pouca gente
sabe que José Felipe da Silva é o Macaúba, conhecido nas rodas de choro e
samba, de Fortaleza, tocando bandolim. Bandolinista virtuoso, autodidata, aos
13 anos já tocava em reisados, pastoris e teatro de bonecos.
Mestre Almeida/ José Maria de
Paula (Fortaleza). Tem atuando no papel de Rainha de maracatu – que é
considerada a figura mais importante do cortejos, sendo, no Estado do Ceará, o
mais antigos brincantes, com mais de 37 anos de participação em maracatu e 30
anos assumindo a personagem de Rainha.
Mestre Zé Renato
(Fortaleza).Iniciou a sua trajetória na capoeira por volta de 1960, tendo
criado o primeiro grupo de capoeira da capital cearense.
Mestre Paulão (Fortaleza). Paulo
Sales Neto iniciou suas atividades na capoeira no ano de 1974, depois do
primeiro contato que teve, através de pequenos grupos que, então se reuniam no
bairro onde morava, em Fortaleza. A partir disso passou a dedicar-se à difusão
dessa arte afro-brasileira, no município. Associou-se ao Grupo Senzala, de
influência nacional, e, criou, com colegas, no ano de 1989, o grupo Capoeira
Brasil, hoje presente em vários países do mundo.
Geraldo Gonçalves - In Memorian
(Assaré). Poeta Popular, Geraldo
Gonçalves era primo Patativa, tendo falecido em maio de 2018, antes de ser
diplomado como mestre da cultura.Geraldo nasceu em Assaré, na Região do Cariri.
Neste ano completaria 73 anos, dos quais em grande parte foram dedicados à
elaboração de trabalhos na literatura popular, literatura de cordel,
declamações poéticas, sonetos, trovas, dentre outras expressões que foram
retratadas pelo roteirista, cineasta, documentarista e produtor Rosemberg
Cariri, no CD "Cenas Sertanejas".
Pedro Bandeira (Juazeiro do
Norte). Poeta e repentista, é considerado um dos cinco melhores cantadores de
viola do Brasil, tem música gravada por Luiz
Gonzaga, Luiz Vieira, Raimundo
Fagner, Alcimar Monteiro, Maryvalda Cariri e Trio Nordestino.
Rita de Cássia da Cunha (Sobral).
Mestra doceira, dona Rita é famosa por sua receita de um prato tradicional: o
fartes, primeiro doce português a chegar no Brasil. Foi nos anos de 1980 que
começou a fazer os fartes aprendidos com a madrinha.
Mãe Zimá (Fortaleza).
Instituições como o Centro Cultural Humaitá, de Pesquisa da arte e cultura
Afro-brasileira; a Associação Nacional de Preservação do Patrimônio Bantu; o
Coletivo Cultural de Matriz Africana Ibilié; a Associação Afro Brasileira de
Cultura Alàgba, que promovem estudos sobre as tradições afro-brasileira,
conhecem ser Mãe Zimá portadora de imenso prestígio por sua atuação como Mãe de
Santo junto às comunidades.
Antônio Rafael Sobrinho
(Tarrafas). Poeta popular com larga produção na área da Literatura de Cordel,
atividade cultural iniciada ainda na infância, como ouvinte das histórias
tradicionais do Cordel. Tem poesias populares publicadas em livro e mais de 80
títulos publicados no formato de folheto de Literatura de Cordel.
Francisca Zenilda Soares
(Assaré). Dona Zenilda fabrica linguiça de forma completamente, artesanal. O
modo de fazer é antigo, tradicional, vem da família há mais de 100 anos, tendo
aprendido com a mãe.
Mestre Chico Bento Calungueiro
(Trairi). O único brincante da arte popular do teatro de bonecos em atividade
no município de Trairi. Quando o Instituto do Patrimônio Histórico Nacional
(Iphan) criou um programa de registro e preservação do patrimônio imaterial,
com foco no mamulengo, Mestre Chico Bento foi reconhecido, tendo rebebido o
título pelos serviços prestados na área da cultura.
Grupos selecionados
Maracatu Az de Ouro - O Maracatu
Az de Ouro foi fundado, em 26 de setembro de 1936. Desfilou pela primeira vez
no ano seguinte, e desde então vem mantendo a sua dedicação a esta tradição
afro-brasileira em Fortaleza. É o mais antigo dos maracatus do Ceará.
Reisado da Família Ramos - A
tradição do Reisado da Família Ramos existe há mais de 60 anos. Tem como seu
lugar de sociabilidade, moradia e trabalho o assentamento Ipueira da Vaca.
Iniciado com o Seu Zé Ramos na Serra da Aratuba, o reisado vem ao longo das
gerações mantendo o processo de transmissão de saberes.
Coletividade selecionada
Associação da Mãe das Dores e do
Padre Cícero- A associação foi constituída em 1984 a partir da conscientização
de algumas pessoas que não concordavam com o processo de exploração a que eram
submetidos os artesãos que trabalhavam com a palha de carnaúba. Hoje, a
associação conta com mais de 25 sócios diretos e produz uma vasta variedade de
artigos feitos de palha, cipó etc.
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