O show Humberto Teixeira – Viva a
Memória do Doutor do Baião terá ainda a participação dos cantores Adelson
Viana, Calé Alencar, Marcus Caffé, Paulo Belim e Marina Cavalcante. O acesso é
gratuito.
O Centro Dragão do Mar de Arte e
Cultura e a Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual do Ceará (Osuece)
realizam, dia 28 de fevereiro, às 17h, na Praça Verde, um grande concerto em
homenagem ao compositor cearense Humberto Teixeira, parceiro musical de Luiz
Gonzaga e teórico do baião. Gratuito, o show Humberto Teixeira – Viva a Memória
do Doutor do Baião apresentará arranjos executados pela orquestra, sob regência
e direção artística do maestro Alfredo Barros, e contará ainda com a
participação dos cantores Adelson Viana, Calé Alencar, Marcus Caffé, Paulo
Belim e Marina Cavalcante. O show será transmitido ao vivo pela TVC.
Cearense nascido no Iguatu, em
1915 – mesmo ano de uma das mais devastadoras secas que o Ceará já viu –,
Humberto Cavalcanti Teixeira partiu no rumo do Rio de Janeiro para, junto de
Luiz Gonzaga, formatar e inserir o Baião e todo seu sertão na Indústria
Cultural do País, nas décadas de 1940 e 1950. Nesse movimento, o poeta de Asa
Branca ajudou a compor também um dos painéis mais ricos e diversificados da
música brasileira.
Teórico e ideólogo do Baião,
Teixeira foi muito mais que o parceiro brilhante de Luiz Gonzaga. Foi um músico
respeitável que merece ser conhecido em razão das iniciativas que tomou, da
luta pelos direitos autorais, pela atuação política (foi Deputado Federal pelo
Ceará, eleito em 1954) e por conta de um sem número de composições gravadas por
vários intérpretes. Em janeiro de 2015, o poeta de Iguatu completou centenário
de nascimento.
O concerto
Partindo dessa relevância, a obra
do músico ganha o palco com a interpretação inspirada dos instrumentistas da
Osuece, que, sob a regência do maestro Alfredo Barros, executará quinze
arranjos elaborados especialmente para as vozes convidadas, intercalados com
outros apenas instrumentais. “A ideia é formar público para a apreciação e
conhecimento dos compositores e músicos que fundamentam nossa identidade
cultural”, define o maestro.
Com abertura declamada do poeta e
escritor Braúlio Bessa, o show contempla uma variedade de canções, muitas das
quais imortalizadas na voz do Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Entre elas estão:
Estrada de Canindé, Tenha Dó de Mim, Paraíba/Juazeiro, Assum Preto, Kalu/Dono
dos Teus Olhos, Légua Tirana, Adeus Maria Fulô, Mangaratiba, Lá no meu pé de
serra, Xanduzinha, Baião de São Sebastião, Qui Nem Jiló e Asa Branca.
Durante a execução das obras,
projeções de imagens ligadas à biografia de Humberto Teixeira conversarão com
os acordes entoados, dando ao concerto ainda mais variedade e beleza. Muitas
das fotos projetadas, inclusive, foram feitas especialmente para o concerto, a
partir do acervo do artista, recentemente doado pela família ao Museu da Imagem
e do Som (MIS).
SERVIÇO
Show Humberto Teixeira – Viva a
Memória do Doutor do Baião
Quando: dia 28 de fevereiro de
2016 (domingo)
Hora: 17h
Onde: Praça Verde
Acesso gratuito
SOBRE HUMBERTO TEIXEIRA
Nascido na cidade de Iguatu,
centro-sul do Ceará, em 1915, ano de uma seca imortalizada pelo romance
homônimo de Rachel de Queiroz, Teixeira veio de uma família de classe média,
onde se destacava a determinação da mãe paraense pela formação dos filhos.
Assim, aos dezessete anos, ele desembarcava com o irmão, no Rio de Janeiro,
onde estudou Medicina e depois abandonou o curso para se graduar em Direito.
Ele se iniciara musicalmente no
Ceará, onde começou, timidamente, a compor. No Rio, pode dar vazão à veia
criativa e ter as primeiras músicas editadas e gravadas. Quando recebeu Luiz
Gonzaga, no escritório de advocacia que mantinha, no centro da então Capital
Federal, estava selada uma das parcerias mais ricas da música brasileira. Mais
que isso, dava-se uma guinada num quadro de prevalência das marchinhas de
carnaval que se alternavam com boleros, sambas-canções e músicas estrangeiras,
em plena era do rádio.
Teixeira foi o ideólogo do baião.
Ele e Gonzaga souberam ouvir o som da tradição e traduzi-lo em uma roupagem
adequada à Indústria Cultural que dava os primeiros passos entre nós. Teixeira
foi o responsável por dar um direcionamento à obra que a dupla desenvolveria,
por pouco tempo, mas de modo indelével no cancioneiro do Brasil.
Com o baião, entrava em cena o
sertão. Expressões musicais ancestrais se moldavam, “estilizadas”, ajustadas ao
tempo do disco, do rádio e das expectativas dos ouvintes e fruidores deste
período.
A parceria durou pouco, mas as
consequências se desdobram até hoje. Não houve ruptura, mas um desencontro em
razão da filiação deles a diferentes entidades de arrecadação dos direitos
autorais. Continuaram amigos. Gonzaga teve outros parceiros. Teixeira logo
emplacou sucessos nas vozes de grandes intérpretes da música brasileira.
Construíram carreiras solos e deram valiosas contribuições à cultura
brasileira.
Além de compositor, Teixeira se
fez uma importante liderança do setor musical. Sua atuação na luta pelo
reconhecimento dos direitos do autor e do intérprete ganhou força durante o
mandato de deputado federal que exerceu representando o Ceará (1955 / 1958).
Foram importantes as caravanas
que organizou para difundir a música brasileira no exterior, num espectro que
ia da erudição de Radamés Gnatalli ao baião, dos grandes intérpretes da música
instrumental à nascente bossa-nova.
Humberto Teixeira fez história.
Levou para o centro da cena outras sonoridades e os dramas do sertão, uma
região que “está dentro de nós”, como disseram Guimarães Rosa e Patativa do
Assaré, em tempos e espaços diferentes.
Foi político a seu modo, ainda
que só tenha cumprido um mandato. Era política a opção pelos dramas dos
flagelados das secas. Era político seu canto, que se impôs na contramão das
narrativas das dores de amores. Teixeira foi líder da categoria e soube
negociar com a indústria fonográfica, apesar de casos de plágios de algumas de
suas composições que aconteceram no exterior (Estados Unidos e França). Soube
avançar na luta pelo som brasileiro, não apenas nos nossos receptores, mas na
tentativa de exportar o baião e fazer dele uma alternativa ao samba, com mais
“pureza” e mais “raízes”, segundo ele advogava.
Humberto Teixeira é o pretexto
para se compreender tanta coisa: migração interna, aculturação, criação, boêmia
(a vida noturna carioca), programação do rádio, chanchadas onde as canções eram
inseridas e tocadas, os embriões de “olimpianos” que o rádio começava a
promover, antes do advento da televisão.
Humberto Teixeira nos mostra o
percurso de uma criação que não teme recorrer à tradição para se perfazer, nos
formatos da linha de montagem do negócio do entretenimento e do lazer, com tudo
o que isso envolve de opção pela releitura e não como mero recurso ao
folclórico. Notável esse trabalho de condensação, de recobrimento por outros
naipes e arranjos, em termos de sonoridades, e da economia verbal propiciada
pelas letras que ele urdia, trabalho de poeta de qualidade que ele sempre foi.
Humberto Teixeira não foi apenas
o parceiro brilhante do Luiz Gonzaga. Ele tinha formação musical. Apaixonado
pelo piano, foi desestimulado pelo pai machista que considerava este instrumento
muito feminino. Aprendeu a tocar flauta e cavaquinho e tocava piano às
escondidas, por puro deleite, sem fazer performances públicas.
O fato de não cantar pode ter
atrapalhado o reconhecimento de sua obra, principalmente quando deixou de ser o
parceiro de Luiz Gonzaga, mais um cantor, um “comunicador” antes do tempo,
dionisíaco, com suas estratégias que hoje parecem de marketing, como a retomada
do gibão e do chapéu do cangaceiro. Apolíneo, Teixeira viveu com intensidade,
tangenciando revistas de fofocas, sempre interessadas na vida amorosa dos
ídolos. Deixou uma obra que merece ser difundida, como exemplo de determinação,
de talento múltiplo, e como ponto de partida para outras propostas.
Além de “Doutor do Baião”, não
apenas por ter formação universitária, mas pelo fato de ter dado formato a este
baião do rádio e do show brasileiro dos anos 1940 e 1950, Teixeira foi um homem
visionário, que soube se antecipar à Indústria Cultural e trabalhar a contenção
verbal da poesia e as modulações e sonoridade melódicas para ajudar a compor um
dos painéis mais ricos e diversificados da música brasileira de todos os
tempos. Por isso, esta proposta de comemoração de seu centenário de nascimento.
Porque ele se sustenta na letra e na música. Humberto Teixeira foi, é e será
sempre um grande compositor brasileiro.
(Gilmar de Carvalho)
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