A obra é livremente inspirada no
romance Belle de Jour, lançado em 1928 pelo escritor franco-argentino Joseph
Kessel e transformado em um clássico do cinema surrealista quase quatro décadas
depois, em 1967, por um de seus maiores mestres, o mexicano Luis Buñuel
(1900-1983).
A história de Séverine, a
burguesa bem-casada que, para suprir o profundo vazio existencial que a
consome, se vê inapelavelmente compelida a transgredir as fronteiras de seu
mundo de conto-de-fadas e ir passar as tardes em um randevu, onde atende pelo
codinome Belle, seduziu Deborah Colker em 2011, pouco depois da estreia de
Tatyana, também inspirado em uma obra literária.
A temática de Belle, no entanto,
está mais associada a outros espetáculos da companhia: Nó, de 2005, e Cruel, de
2008, discorrem, ambos e de diferentes maneiras, sobre o que há de mais atávico
nas pulsões humanas: o erotismo.
Com uma diferença fundamental:
Belle traz à tona, também e principalmente, o outro lado desta mesma moeda.
Coloca em evidência o embate entre carne e espírito, amor e desejo, razão e
instinto, real e imaginário – conflitos íntimos que assombram e atormentam todo
e qualquer ser humano civilizado. E, para Deborah, o que faz da protagonista da
obra de Kessel uma personagem singular e fascinante é o fato de ela atender ao
chamado implacável do instinto, ao mesmo tempo em que não abre mão do casamento
e do charme discreto do dia-a-dia burguês, que preza com sinceridade, revelando
uma capacidade incomum de dividir-se, com suprema diligência, entre as duas
servidões.
– O livro de Kessel foi meu
timoneiro, define Deborah Colker. Mas o meu desafio era traduzir em movimentos
a dicotomia brutal e tão profundamente humana que move a história desta mulher.
E, pela própria natureza da linguagem coreográfica, meu espetáculo traduz uma
leitura muito mais poética do que propriamente narrativa da trama. A grande
assinatura da minha adaptação de Belle de Jour foi materializar no palco o
duplo de Séverine. Tanto no romance original quanto
no filme de Buñuel, Séverine e
Belle são a mesma pessoa. E, como na dança tudo é transmitido através do corpo,
para mim, foi necessário encarnar este duplo em duas bailarinas que fossem o
oposto perfeito uma da outra. Uma é alta, controlada, fria, sistemática. A
outra é baixa, vulcânica, intensa, animal.
A esta opção soma-se outra que
revive um dos ícones do balé clássico: as sapatilhas de ponta, usadas pelas
bailarinas no início do espetáculo.
– É um recurso do qual eu me
aproprio com muito prazer. Quando Isadora Duncan tirou as sapatilhas no início
do século XX foi uma grande ruptura. Mas a roda continua girando. Pina Bausch
voltou às pontas e ao balé narrativo. A atitude contemporânea, para mim, está
na saudável desobediência a fórmulas prontas, defende Deborah.
Sobre uma trilha sonora que vai
do gênio de Miles Davis a Lou Reed, passando pela música eletrônica, Belle se
estrutura em dois movimentos. No primeiro, a ação se concentra na casa de
Séverine e culmina em sua descoberta clandestina do randevu. No segundo,
integralmente passado no habitat de Belle, seu duplo, o elenco feminino troca
as sapatilhas por sapatos de salto alto, mas há poucas mudanças de cenário. Uma
opção que reforça a leitura pessoal e intransferível do romance pela
coreógrafa.
– Belle, o espetáculo que construí,
deixa no ar, em aberto, uma questão, e delega ao espectador a escolha: afinal,
esta é uma história que realmente se realiza ou que se passa apenas dentro da
cabeça de Séverine?, provoca.
Criação e Direção DEBORAH COLKER
Diretor Executivo JOÃO ELIAS
Direção de Arte e Cenografia
GRINGO CARDIA
Direção Musical BERNA CEPPAS
Desenho de Luz: JORGINHO DE
CARVALHO
Figurinos: SAMUEL CIRNANSCK
Dramaturgia: DEBORAH COLKER, JOÃO
ELIAS
Serviço:
Data: 2 e 3 de Abril
Local: TEATRO RIOMAR (Rua Lauro Nogueira, 1500 loja
3001 – L3)
Ingressos à venda: Bilheteria do
teatro
Segunda-feira – FECHADA
De Terça à Sábado de 12h às 21h
Domingos e Feriados* – 14h às 20h
Domingos e Feriados que houver
evento, a bilheteria abre de 12h até o início do evento.
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