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terça-feira, 5 de outubro de 2010

[Exposição – CE] Exposição de fotografias sobre arquiteturas populares de Portugal entra em cartaz no CCBNB-Fortaleza


O Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza (Rua Floriano Peixoto, 941 - Centro - fone: (85) 3464.3108) abrirá a exposição de fotografias intitulada "Arquitecturas populares: memórias do tempo e do patrimônio construído", do arquiteto e fotógrafo português António Menéres, nesta quinta-feira, 7, às 18 horas. Com entrada franca, a exposição fica em cartaz até o dia 28 deste mês (horários de visitação: terça-feira a sábado: 10h às 20h; e aos domingos, de 10h às 18h).


A exposição abrange, com a exibição de 84 fotos, um largo espectro temporal e espacial. Menéres dividiu-a em conjuntos, denominados: As velhas memórias; Ambientes; Habitação; A arquitectura do trabalho; O sol, a terra e a água; A arquitectura do sentimento religioso; O "saber" do detalhe; e Gentes.

Na exposição, transparece o espírito norteador dos realizadores do Inquérito (um trabalho de investigação cultural desenvolvido em Portugal entre 1955 e 1960), marcado pela imbricação dos estudos de arquitetura popular em conceitos de Antropologia Cultural. O grupo de fotos denominado "As velhas memórias", por exemplo, reúne construções pré-romanas, romanas e medievais, todas bem anteriores ao surgimento do Brasil como nação.


António Menéres dedica-se à fotografia desde menino. Assim, além das tarefas que lhe competiram na época dos trabalhos do Inquérito, quando foram colhidas mais de 11 mil fotografias, Menéres possui uma coleção que "ultrapassa os 15 mil disparos", conforme suas palavras. Desse acervo admirável, guardado com carinho e desvelo à espera de propagação ampla, António Menéres selecionou 84 exemplares, que agora mostra no Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza.


Ele diplomou-se em Arquitetura pela antiga Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP), instalada no Palacete do Braguinha, em São Lázaro, na zona central da cidade do Porto. Quando do desmembramento da ESBAP, criou-se a atual Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP), localizada em ponto mais distante, no Campo Alegre. A FAUP é a prestigiosa entidade de ensino na qual Menéres foi professor, hoje aposentado.


Um arquiteto português de alma brasileira


António Sérgio Maciel Menéres, arquiteto português, é uma velha e preciosa amizade, consolidada com o passar do tempo. A imensidão do Atlântico, que separa as cidades do Porto e da Fortaleza, tem sido facilmente vencida pelas visitas, cartas e telefonemas trocados através dos anos. Volta o meu amigo ao Brasil agora, creio que pela décima sétima vez, trazendo consigo uma exposição de arquitetura, em boa hora montada sob o patrocínio do Centro Cultural do Banco do Nordeste, com apoio da Universidade Federal do Ceará.
António Menéres diplomou-se em Arquitetura pela antiga Escola Superior de Belas Artes do Porto, a ESBAP, instalada no Palacete do Braguinha, em São Lázaro, na zona central da Cidade. Quando do desmembramento da ESBAP, criou-se a atual Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, localizada em ponto mais distante, no Campo Alegre. A FAUP é a prestigiosa entidade de ensino na qual foi docente o Menéres, hoje aposentado (reformado, diz-se em Portugal).
Ainda nos tempos ásperos, quando mandava Oliveira Salazar, o Sindicato dos Arquitectos Portugueses obteve aprovação governamental para realizar um Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa, trabalho de investigação cultural (“inquérito”) desenvolvido entre 1955 e 1960, com saber e devotamento. O Inquérito redundou em um dos mais notáveis empreendimentos culturais realizados coletivamente por arquitetos.
Para elaboração das pesquisas, foram formados seis grupos, cada qual constituído por um profissional experiente e por dois jovens arquitetos, de tal sorte que o Inquérito se pautou em expressivo e rigoroso trabalho conjunto de apenas 18 pessoas! Na ocasião, como campo de atividades, o território do País ficou dividido em áreas correspondentes grosso modo às regiões geográficas portuguesas tradicionais, com alguns ajustes. Os resultados do Inquérito foram inicialmente publicados em fascículos, mas logo se transformaram em livro valioso, com seguidas edições. 
António Menéres participou do Inquérito recém-diplomado, em companhia do arquiteto Rui Pimentel, ambos sob a segura orientação do arquiteto professor Fernando Távora (1923-2005). Magnífica figura humana, Távora sobressaiu-se por sua atuação, sem dúvida, uma das contribuições profissionais mais significativas no campo do projeto arquitetônico e do ensino da arquitetura em Portugal. Nome de presença marcante na vida da FAUP, avulta entre aqueles que mais ajudaram no reconhecimento e na formação do prestígio internacional daquela instituição. Homem gentil e culto, Fernando Távora esteve entre nós em outubro de 1994, em visita memorável ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará. 

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É comum, em Portugal, dizer-se que entre os nortenhos aparecem pessoas de tez clara, louras e até de olhos azuis, descendentes longínquos talvez de celtas, mas, por certo, de povos germânicos, os visigodos, instalados em Portugal, criadores do Reino. Também é habitual a referência a gentes morenas, de olhos negros, habitantes das terras do sul, em cujas veias corre sangue berbere, da época das invasões islâmicas. O tempo reuniu-os todos e os misturou, de tal sorte que, apesar dessas diferenças, Portugal é um dos países maior homogeneidade étnica da Europa.
Do mesmo modo, também é corrente afirmar-se que no Norte se emprega a pedra e no Sul prevalecem obras de tijolo e terra. Nem tanto assim, pois a rica variedade das pedras no País proporciona soluções arquitetônicas diferenciadas, à parte o tijolo desfrutar de geral aceitação, preferencialmente no ambiente urbano. Salvo nas partes altas da serra da Estrela e em extensões trasmontanas, não cai neve em Portugal, o que elimina a necessidade de se recorrer a telhas planas, lisas. Assim, tal como no Brasil, praticamente em todo o Portugal prevalece o emprego das telhas cerâmicas, nas mais das vezes de canudo, mediterrâneas, embora em Trás-os-Montes, nas zonas rurais, sejam comuns as cobertas de placas de xisto. Nos arredores de Braga, o autor destas linhas deparou telhas de barro com corte em V, semelhantes às usuais no Ceará antigo.
Em termos de materiais de sustentação, no Minho, realmente prevalece o granito, aparelhado em grandes blocos ou com pedras toscas, irregulares, sem reboco, enquanto no vizinho Trás-os-Montes as construções recorrem ao xisto. Na arquitetura do Porto, nos lancis, nos elementos decorativos sobrepostos, impôs-se o uso do granito, em particular, da pedra de galho, a mesma igual e abundante no Rio de Janeiro. No centro, em Coimbra, trabalha-se com a pedra de Ançã, de cor creme, calcário brando, tão dócil quanto a pedra-sabão mineira. A região de Lisboa recorre ao lioz,pedra remetida para o Brasil até o século XIX, como lastro de navios, muito apreciada em São Luís e Belém, mas também, conquanto com menor solicitação, em outras cidades, inclusive na Cidade da Fortaleza da Assunção. No Alentejo, embora abundem os mármores, avulta o emprego da taipa de pilão, do adobe e dos tijolos, estes usuais no Algarve. Assim, de modo geral, em termos de arquitetura popular, no casario nortenho, a pedra faz com que os paramentos mostrem aparência severa e escura, enquanto, no sul, ganham evidência as paredes de tijolos ou de taipa com reboco caiado, branco, alegre e asséptico, cuja preservação constitui tarefa entregue às mulheres, porque as pintam sem sujar o chão... Casas brancas do sul de Portugal. Casas rurais dos “montes” alentejanos, com chaminés de arremates inconfundíveis. Casas do Algarve, com varandas no alto, usadas como coberta, as açoteias.
Na verdade, não parece fácil entendermos como um país territorialmente pequeno, que é Portugal, possa contar com tantas variações paisagísticas, quase todas até certo ponto reproduzidas no Brasil, menos a caatinga do Nordeste e, é claro, a floresta amazônica. Assim se explica a extraordinária adaptação lusitana à Terra de Santa Cruz, dificilmente conseguida por outros povos europeus, acaso se tivessem apossado do solo brasileiro.
A Zona 1, em que o Menéres atuou no Inquérito, diga-se que envolvia, em termos regionais, o Minho, o Douro Litoral e uma parte da Beira Litoral, no Distrito de Aveiro, até as margens do Mondego. Compreendia, pois, faixa marítima de alta concentração demográfica, de onde, conjuntamente com os Açores, partiu o contingente maior de portugueses para o Brasil.
O Minho começa na fronteira com a Galícia e desce quase até os arredores do Porto. É uma região montanhosa, parecida com Minas Gerais, na qual chove muito na estação do inverno. No Ceará e em alguns estados vizinhos, o período de chuvas, que ocorre efetivamente no verão e no outono, tornou-se conhecido por “inverno”, variação semântica herdada dos migrantes, que a empregavam para designar os dias molhados e escuros, parecidos com os do inverno da terra natal distante. O minifúndio minhoto gerou uma arquitetura rural de casas de pedra, pequenas, aconchegantes, de dois pavimentos. No alto, vivem os donos e, na parte de baixo, guardam-se as alfaias e o gado, que se aquece e aquece a casa no frio. Na exposição, fotografias do Minho mostram conjuntos de espigueiros, curioso tipo de miniaturas arquitetônicas, semelhantes a pequenas casas de pedra, apoiadas em original sistema de sustentação, cujo perfil impede que os ratos alcancem as espigas de milho guardadas nos interiores.
O Douro Litoral abrange não apenas a foz do Rio, mas se alarga por uma área ampliada da zona metropolitana do Porto, que se estende, no litoral, da Póvoa de Varzim a Espinho e, subindo o rio, vai até Amarante, nos sopés da serra do Marão. O Porto é a capital do Norte, velha cidade, de inconfundível caráter urbano. Lembra Salvador da Bahia, sem praia fronteira mas à margem do Douro, com a sua “cidade baixa”, a Ribeira, e com a sua “cidade alta”, derramada nas colinas da Sé vetusta e de São Bento, separadas por um vale, onde fluía o “rio da Vila”, hoje encoberto pela malha urbana. Centro comercial e industrial, cidade do trabalho, aparentemente fechada, mas sincera, amiga dos amigos, cuja população envaidecida, com seu bairrismo incontido, supera paulistanos, recifenses e sobralenses juntos...
Finalmente, curta referência ao trecho da Beira Litoral, pesquisado pelo Menéres, em que sobressai a cidade de Aveiro, cortada pelo rio Vouga, como se fosse uma pequena Veneza, terra natal de boa parte dos portugueses imigrados no Ceará no último século e meio. No rumo do mar, estende-se a famosa ria, com suas praias vizinhas, ao sul, a Costa Nova, de dunas brancas, que fazem lembrar certos trechos do litoral cearense, como ainda há pouco o víamos, conservado em estado natural. Diz-se Costa Nova porque nascida do recuo do mar. Nas praias aveirenses, desenvolveram-se os palheiros, curioso tipo de casa de ”populações pobres de pescadores”, feitas de madeira da região, extraída dos “pinhais que defendiam a orla marítima”, visto que “materiais como o barro e ou a pedra só apareciam muito para o interior”, como assinala o próprio Menéres.        

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António Menéres dedica-se à fotografia desde menino. Assim, além das tarefas que lhe competiram na época dos trabalhos de documentação do Inquérito, quando foram colhidas mais de onze mil fotografias, o meu amigo Menéres possui uma coleção que “ultrapassa dos 15 mil disparos”, conforme suas palavras. Desse acervo admirável, guardado com carinho e desvelo à espera de propagação ampla, selecionou oitenta e dois exemplares, que ora nos mostra nas salas do Centro Cultural do Banco do Nordeste, em Fortaleza.
A exposição de fotografias Arquitecturas Populares / Memórias do Tempo e do Patrimônio Cultural abrange largo espectro temporal e espacial. Menéres dividiu-a em conjuntos intitulados As velhas Memórias; Ambientes; Habitação; A Arquitectura do trabalho: o sol, a terra e a água; A Arquitectura do Sentimento Religioso; O “saber” do detalhe e Gentes. No grupo denominado As velhas Memórias, vale assinalar a intenção de emprego do adjetivo “velhas”, pois reúne realizações pré-romanas, romanas e medievais, todas bem anteriores ao surgimento do Brasil como nação. Nas notas de esclarecimento, da autoria do próprio Menéres, transparece o espírito norteador dos realizadores do Inquérito, marcado pela imbricação dos estudos de arquitetura popular em conceitos de Antropologia Cultural.                                    
Eis a exposição. Aproveitemos, pois, a oportunidade única.

Liberal de Castro

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