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quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Espetáculo] “Iracema dos lábios de mel: o musical” estreia no Theatro José de Alencar


Adaptado e dirigido pelo dramaturgo Ilclemar Nunes a partir da obra clássica de José de Alencar, o espetáculo faz curta temporada, de 05 a08 de outubro, no palco principal do TJA

A icônica história do amor proibido entre a índia tabajara Iracema e o guerreiro branco português Martim, criada pelo escritor José de Alencar, ganha estreia de inédita e livre adaptação pelo dramaturgo e diretor cearense Ilclemar Nunes. A versão “Iracema dos lábios de mel: o musical” faz curta temporada no palco principal do Theatro José de Alencar (TJA), ficando em cartaz de 05 a 08 de outubro (de quinta-feira a domingo), às 19 horas.

Com elenco formado por 23 atores cearenses, músicos e equipe técnica composta basicamente por grandes profissionais locais, o musical mostra de forma visceral o amor dos protagonistas, que viceja no nascimento do brasileiro fruto dessa miscigenação: o mameluco Moacir, entre as guerras, a paixão, a amizade e os ritos dos índios que habitaram o Ceará. Projeto incentivado pelo VIII Edital Mecenas, da Secretaria da Cultura do Ceará, tem patrocínio do Grupo Zenir e do Expresso Guanabara, com apoio da Câmara de Comércio Brasil/Portugal, do Teatro da Boca Rica e do Teatro Antonieta Noronha.

A dramaturgia de “Iracema dos lábios de mel: o musical”, escrita por Ilclemar desde 1991 para o teatro, já foi antes de encenada como peça, transformada pelo autor em roteiro carnavalesco para o desfile da Escola de Samba Beija-flor de Nilópolis nesse ano. Agora, a singularidade do musical adaptado do romance original chega enfim aos palcos, tendo a personagem-título interpretada pela jovem Larissa Goes, enquanto o ator André Ximenes faz o papel de Martim (figura baseada no real primeiro colonizador português do Ceará, Martim Soares Moreno, que impõe aos índios a cultura civilizadora cristã européia).

Outros personagens também ganham novos intérpretes cantantes e dançantes na montagem, como Poti, o guerreiro pitaguary e amigo de Martim (feito por Gabriel Moraes); o pajé da tribo tabajaras (Beto Meneis); o guerreiro irmão de Iracema,Caubi (Mateus Honori); o chefe tabajara e inimigo de Martim, Irapuã (Bruno Prata); o cacique potiguara Jacaúna (Markos Vanucci, que também atua como um dos guerreiros), para citar alguns do grande elenco.

Ilclemar ressalta que a linguagem de Alencar já tem os ensejos cênicos apropriados, “até por ele ter escrito muitas peças”, mas aproveitou “a fluidez da narrativa original para ampliar a dramaticidade ao vivo; sobressaltar as atitudes e a personalidade feminina de Iracema, como também dar corpo aos outros personagens, até porque no livro-poema de Alencar, a índia dos cabelos negros como da graúna atua sozinha nas linhas, enquanto os embalos da prosa podiam virar os diálogos e entoações cantadas para se contar essa história em musical”, respalda.

Dessa forma, na ação teatral Ilclemar atribuiu vida aos aldeões e guerreiros das tribos Potiguares (do litoral e aliada dos portugueses) e Tabajaras (tribo de Iracema, nas serras cearenses, aliada dos franceses), que eram apenas citados na obra literária. Também fez surgir no palco as demais virgens indígenas, que são ao mesmo tempo, alter-egos e protetoras da Iracema central, sendo vivenciadas pelas atrizes Emille Castro, Belle Sena, Marina Vasconcelos, Luana Florentino, Janaina de Paula e Júlia Vasconcelos. Integradoras, o grupo das virgens é parceiro de Iracema nas ações e pensamentos da protagonista.

“Essa relação das virgens com Iracema a ajuda a não ter papel solitário na cena; auxiliam no romance dela com o estrangeiro, sofrem com ela durante o parto, entregam a bebida mística para que viaje em segurança, enfim, estão sempre presentes”, reitera. No palco, o elenco ocupa todo espaço temporal e interpretativo em cantorias e danças. “Inclusive ajudam a narrar passagens da história à platéia, como uma espécie de coro grego no espetáculo”, referencia o dramaturgo.


A preparação e as concepções para o musical Iracema

O musical traz as nuances todas do livro indianista: as guerras entre as tribos indígenas por domínios geográficos; a chegada do português Martim pelas terras potiguares, o que amplia o conflito em torno do romance com a índia da tribo inimiga dos tabajaras; a questão do abandono e dos desterros cearenses, até vir à luz o primeiro miscigenado Moacir, esse rebento mameluco brasileiro de quem somos todos “descendentes”. Para tamanha precisão e renovações, Ilclemar iniciou a montagem, reunindo elenco, músicos e toda a equipe técnica formada por cearenses, com exceção do maestro e compositor sergipano Ubirajara Cabral.

Além da adaptação e direção por Ilclemar Nunes, ele reuniu grandes profissionais do teatro local – a assistente de direção (Ana Cristina Viana); direção musical e composições (Glairton Santiago), cenografia (Rodrigo Frota com assistência e desenhos técnicos de Gabriel Dultra e produção executiva de cenografia e adereços por Fábio Vasconcelos), produção geral (Dora Freitas com assistente Priscila Lima), figurino e maquiagem (Dami Cruz e assistente Addila Costa), iluminação (Samir Kassouf) à coreografia (Paulo José) e toda preparação cênica. Nunes preponderou ainda, na premissa da própria juventude pertinente aos personagens do romance, que a formação do elenco é de jovens atores.

Após a seleção em série de testes, pinçou intérpretes iniciantes, vindos de cursos preparatórios ou mesmo de pequenos grupos teatrais, a maioria sem grande experiência nem vícios na atuação. A única precisão era a ênfase a quem cantasse bem. Fora o personagem do velho Pajé, vivido pelo experiente artista Beto Meneis, e do veterano ator Acácio de Montes nos papéis de Andira (o ancião guerreiro, tio de Iracema) e como o próprio José de Alencar, o restante do elenco tem faixa etária de 18 a 25 anos. Definido o elenco de novatos, Ilclemar e os preparadores de ponta da equipe técnica promoveram para todos que integram a aldeia tupiniquim em cena uma imersão de aprendizados, com oficinas durante três meses sobre canto, dança, movimentação cênica, expressão corporal e interpretação.

Adianta o diretor: “Temos integrantes que nunca subiram em um palco ou que jamais cantaram em cena. Oferecemos para esses jovens a formação e o preparo para um musical. E eles deram toda a alma! Além deles terem agora uma Iracema no currículo, o público verá o excelente resultado e as belas revelações”. Os ensaios aconteceram no Teatro da Boca Rica, na Praia de Iracema, onde a afinação e os compassos sincronizados às interpretações enlevaram as cenas de festas, ritos, do amor às guerras e tensões, em concepção mais moderna para uma naturalidade indígena, como ressaltou o preparador corporal, Paulo José.  Sem caricaturas ou imitação superficial de tribais, as coreografias do plural elenco primam pela unidade coesa, privilegiando ao máximo o corpo musical, afinal um espetáculo do gênero, mesmo com ousadias, requer a harmonia e a intimidade com as canções que também contam a trama, junto aos textos e movimentações.

A Iracema de Ilclemar Nunes

Apaixonado pela obra e autor, Ilclemar repete um mantra que sempre “ao reler Iracema, me enterneço como da primeira vez; e mesmo hoje assistindo novamente às cenas como teatro musical, eu me emociono demais”, confessa, reiterando que “Alencar transforma o seu romance em verdadeira ode à beleza da nossa Terra da Luz”. Essa eternizada louvação ao livro remonta ainda ao ano de 1991, quando Nunes recebeu da Secretaria da Cultura do Estado (Secult) o convite para escrever um espetáculo em comemoração aos primeiros quatro anos do órgão estadual na então gestão do Governo Tasso Jereissati. A liberdade para a criação resultou na primeira versão da adaptação musical de Iracema.

Ilclemar distingue ao situar que a obra tem respaldo até em outras plagas. “Dei sorte, pois Iracema é um ícone nacional, não só cearense. Aliás, para terem uma idéia da universalidade do romance, em Cuba é usado até em questões no vestibular, além das traduções emvárias línguas, adaptações para cinema e encenações”. O hiato de 25 anos entre a criação até a montagem atual do espetáculo se deu por outra fábula.  Apesar de ter os recursos assegurados, esbarrou na falta de profissionais na época para a devida captação e produção. Depois disso, já no ano passado, Nunes não resistiu e criou a versão do espetáculo como roteiro para o desfile da escola de samba carioca Beija-flor levar a história de Iracema à Sapucaí, em fevereiro.

Nunes, que já fazia carreira no Rio de Janeiro e também fora por três décadas jurado dos desfilesde carnaval carioca, adaptou a obra, mandou o enredo à porta-bandeira da Beija-Flor, a Selminha Sorriso (Selma Rocha), que adorou e passou ao diretor de Carnaval da Escola, o Laíla. De prontidão ele chamou Ilclemar para o trabalho e se fincar pelo Rio, onde desde 2001 dividia morada, entre estadas por Fortaleza. O sucesso do enredo e show foi bem além da 6ª colocação da escola no carnaval, e só motivou mais ao dramaturgo retornar à produção do espetáculo em teatro musical, que estréia nesse mês de outubro por Fortaleza.

Após a curta temporada de lançamento, “Iracema dos lábios de mel: o musical” retornará ao Theatro José de Alencar em 2018. No próximo ano, o musical também deve seguir em circuito nacional para mostras e apresentações no Rio de Janeiro, em São Paulo e Brasília, e já está em negociação para desembarcar em Portugal com o apoio da Câmara de Comércio Brasil/Portugal.


Mais sobre Ilclemar Nunes:

Natural de São Luiz do Curu (CE), Ilclemar Nunes (75 anos) é redator, dramaturgo, ator e professor de teatro. Integrante do Curso de Artes Dramáticas da Universidade Federal do Ceará (UFC), Nunes também é formado pelo curso de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-graduado em Artes Cênicas, na mesma instituição.

A estréia profissional como ator se deu ainda em 1964 na peça “A Noite do Iguana”, ao lado de Cacilda Becker e de Walmor Chagas, que dirigiu a premiada montagem. Como autor teatral, Nunes teve êxito imediato com a laureada peça “Do Sótão ao Rés-do-Chão”, que logo foi adaptada para o cinema como o filme “Soninha Toda Pura”, também em 1971. Roteirista de mão cheia, ainda jovem foi da equipe redatora de programas para J. Silvestre, e um dos autores da primeira versão do “Sítio do Picapau Amarelo” (Rede Globo), participando como ator em episódios. Também foi redator e diretor em outros programas e emissoras, como na TV Educativa do Rio (de 1962 a 2001).

Folião sempre, se tornou jurado por 30 anos (de 1984 até 2014) na Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), levando também ao Carnaval carioca de 2017 a icônica personagem Iracema para o desfile da escola de samba Beija-flor na Sapucaí. Antes de montar o espetáculo “Iracema dos lábios de mel: o musical”, publicou o texto em 2012, entre os 20 títulos da coleção de livros Edições Theatro José de Alencar, da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult).





  
Ficha Técnica:

Dramaturgia e Direção - Ilclemar Nunes
Assistente de Direção - Ana Cristina Viana
Direção Musical/ Composições - Glairton Santiago
Cenografia - Rodrigo Frota
Cenógrafo Assistente e desenhos técnicos – Gabriel Dultra
Produção executiva de cenografia e adereços - Fábio Vasconcelos
Produção - Dora Freitas
Produtora Assistente – Priscila Lima
Figurino/ Maquiagem - Dami Cruz
Assistente de maquiagem - Addila Costa
Iluminação– Samir Kassouf
Coreografia - Paulo José
Confecção dos arcos e flechas- Telma Pacheco
Confecção de adereços em madeira - Dedé da Talha
Cenotecnicos - Antonio Magalhães, Marciano nascimento, Marcelo Almeida e Mardem Almeida


Elenco:

Iracema - Larissa Goes
Martim - André Ximenes
Poti - Gabriel Moraes
Pajé- Beto Meneis
Irapuã - Bruno Prata
Jacaúna/Guerreiro – MarkosVanucci
Caubi- Mateus Honori
Andira/ José de Alencar - Acácio de Montes
Jaguarussu/ Guerreiro - Tonny Greg
Camurupim/ Guerreiro - Gedson Oliveira
Guerreiros -  Pedro Silva, Christian Oliveira, Bryan Lima
Virgens- Emille Castro, Belle Sena, Marina Vasconcelos, Luana Florentino, Janaina de Paula e Júlia Vasconcelos


SERVIÇO:
“IRACEMA DOS LÁBIOS DE MEL: O MUSICAL”
Local: Palco principal do Theatro José de Alencar (Praça José de Alencar s/n – Centro – Fortaleza / CE)
Data: De 05 a 08/10/17 (quinta-feira a domingo).
Horários: 19h
Ingressos: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia)
Classificação indicativa: 14 anos.

Mais informações: (85) 3101-2566

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