Coberturas – Artes – Lançamentos – Frontstage – Backstage – Tecnologia – Coluna Social – Eventos – Happy Hour – Coquetel – Coffee Break – Palestras – Briefing – Desfiles – Moda – Feiras – Chás – Fotos – Exposições – Assessoria de Imprensa e Comunicação Nacional

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Sobrado Dr. José Lourenço


7 Artistas/ 7 Exposições

Bosco Lisboa – Redes
Euzébio Zloccowick – Carrapicho
Francisco Zanazanan – Humano
João Pedro - Retratos, Álbuns, Vinhetas
Tetê de Alencar - Vestidos
Val Barros – Claro/Escuro
Zé Tarcísio – S.O.S. Litoral

Eles são sete. Sete artistas reunidos numa conversa de imagens. Em sete exposições ancoradas em seus desejos eles se expressam com a fluência de quem articula liberdade com sentimento.
De gerações e interesses distintos cada um à sua maneira traz para o debate da arte o seu quinhão.
Além de nordestinos – cinco cearenses: Bosco Lisboa, Francisco Zanazanan, João Pedro, Tetê de Alencar e Zé Tarcísio; uma maranhense, Val Barros; e um alagoano residente em Fortaleza, Euzébio Zloccovick, nossos interlocutores têm em comum o sentido da chegada a um lugar preciso. Lidando com matérias e linguagens distintas, a direção de cada um também os aproxima. Desse ponto de vista a reunião de suas diferenças enriquece o diálogo proposto.
José Tarcísio deflagra a revolta e o êxtase, expondo o seu famoso manifesto a favor das dunas da paisagem cearense, a pintura panorâmica S.O.S. Litoral, iniciada na Bienal Internacional de São Paulo de 1979, e trabalhada por anos a fio até ser concluída em 1990. Luta corporal com a tela de 10 metros de comprimento por 2,20m de altura, com o sol a pino e o vento que carrega as dunas. Atônito, o artista cidadão chama a atenção para o desequilíbrio ecológico e social. Junto com as dunas vão natureza e cultura. A propósito: para onde vão os seus habitantes extraditados?
Toda arte é política. A serviço da humanidade, um gesto, uma palavra ou atitude podem mudar o curso dos acontecimentos. Uma das vias de se trilhar esse caminho é explorar e oferecer outras possibilidades de ver e ler a realidade. Francisco Zanazanan navega nessas águas. O risco contínuo de seu trabalho leva-o a lugares como o Aqui exposto no 58º Salão de Abril, cuja sutileza não admite observador passivo. Para vê-lo é necessário movimentar-se, no ritmo do ir e vir. Em Humano, obra agora apresentada, o desafio se faz mais contundente: amor e ódio não são apenas palavras opostas, mas signos imbricados.
Amor que transborda do pensamento para a ação do clic. Continuando na seara do desejo, Tetê de Alencar, uma cearense que levou a saudade de Iguatu para a Inglaterra, apresenta a série Vestidos, auto-retratos com a estampa de sua satisfação garantida pela ação do instantâneo fotográfico. A roupa faz o monge que habita Tetê, utilizando os provadores das boutiques londrinas como estúdio e campo de batalha. Com o pretexto de “experimentá-los” ela “possui” estes objetos de consumo fora do seu alcance. O disparo da câmera fotográfica congela a posse dos vestidos assinados.
Apropriar-se é também o que faz Euzébio Zloccowick, em Carrapicho, exposição contemplada em edital de Incentivo às Artes Visuais da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, agora apresentada. Evocando o espinhoso tema da religiosidade, o artista cobre com o manto da “dor” imagens da iconografia cristã. Frente à feérie barroca do autor, é impossível não extasiar-se com o deslumbre do trabalho. A sedução e a sublimação, poderes encarnados na estatuária sacra encontram abrigo privilegiado nestes “casulos”, onde mais reluz o ouro sugerido do que o sacrifício embutido em cada carrapicho espetado.
Bosco Lisboa retira do barro que pisa o gosto de inventar outra matéria para as coisas que lhe cercam. Assim fez-se o escultor que encara a vida com a mesma elasticidade do material que molda seus objetos. Emblemática, portanto, Redes, a exposição que pretende num signo condensar a alma viajante da gente cearense.
A criatividade é uma poderosa arma na luta da sobrevivência. O gravador João Pedro é um exemplo de artista que expande os seus limites. Do trajeto de Ipaumirim a Juazeiro do Norte, à chegada a Fortaleza de posse de tábuas de umburana, goivas, álbuns de xilo e esparsos cordéis, o artista empreende cotidianamente a força-tarefa de alargar a experiência e os temas partilhados com os colegas da Lira Nordestina. Superando-se, João Pedro tem ampliado o seu repertório com algumas inovações curiosas como os retratos que agora faz sob encomendas, expostos em Retratos, Álbuns, Vinhetas.
Retratos de gente, retratos da luz. A fotógrafa maranhense Val Barros expõe Claro/Escuro, reunindo as séries Divino , Itamatatiua e Leveza. A primeira trata da Festa do Divino na ilha de São Luís e Alcântara, a segunda, reverencia a comunidade quilombola de Itamatatiua, distrito de Alcântara. Leveza é uma escapada do olhar antropológico que Val engatilhou em Viagem de Trem, de 1998. A grande suavidade dessas imagens é algo que não cabe num discurso de palavras.
Interlocutores, promotores e agentes desse diálogo de muitas vozes, os artistas reunidos suscitam o debate. É isso o que importa.

Dodora Guimarães

Nenhum comentário: